Número 233

ANTES QUE SEJA TARDE *

Com força popular e com vontade política, a ética há de se espalhar com toda a intensidade. Com força de caráter e com vontade de acertar, a decência há de se espalhar com toda a intensidade. Com a força do voto e com o respeito à vontade de quem elegeu seu representante, a justiça social há de se espalhar com toda a intensidade.

Assim, há de molhar o já seco manancial de esperança que o brasileiro vê minguar a cada dia. Há de enxugar os olhos de quem chorou as vítimas das tragédias repetidas e cruéis, como, por exemplo, do caos aéreo. Há de iluminar os becos, onde a violência e o tráfico de drogas dizimam o futuro de meninos e meninas, tanto de forma direta, quanto por balas perdidas. Antes que seja tarde.

Há de assaltar os bares, principiando por aqueles das Universidades – fóruns de livre pensar, indutores de consciência e formadores de uma elite que precisa ser resgatada, e não demonizada. Há de tomar as ruas, em manifestações claras de repúdio à política venal e corporativista. Há de visitar os lares, reduto primeiro no qual se cultiva o juízo do que é certo e errado, e de onde a educação emerge como formadora. Antes que seja tarde.

Há de rasgar as trevas das votações secretas no Senado Federal; as maracutaias engendradas na ante-sala do Poder Executivo; a corrupção e o favorecimento escuso que germina nas casas legislativas, prefeituras e governos estaduais. Há de abençoar o dia em que a Justiça não puna apenas o ladrão de galinhas, alcançando com igual rigor os criminosos de colarinho branco. Há de guardar as pedras arremessadas por radicais de todos os matizes, capazes das atitudes mais atrozes e ilegais por sentirem-se justificados por fins nobres. Antes que seja tarde.

Há de deixar semente do mais bendito fruto na terra e nos ventres do Brasil, que depende, ainda e como nunca, de pessoas capazes de levar o desenvolvimento social e econômico para cada um dos rincões da nação. Sem assistencialismo, mas com oportunidade. Sem apadrinhamento, mas com a valorização dos méritos. Sem preconceitos de qualquer espécie, mas com o respeito às individualidades. Antes que seja tarde.

Há de fazer alarde em uma imprensa livre, fiscalizadora, opinativa e plural – sim, pois à informação jamais deve imputar-se uma falsa aura de imparcialidade. Há de libertar o sonho repleto de esperança da nossa mocidade, ao legar bons exemplos e mea-culpas. Antes que seja tarde.

Por fim, há de mudar os homens que decidem os caminhos da nação brasileira. Rápido! Antes que a chama da ética se apague. Antes que a fé na democracia e nas instituições nacionais se acabe. Antes que seja tarde.

* Crônica escrita com base na obra de Ivan Lins e Vítor Martins, de mesmo nome, composta em (e para) outros tempos, mas com uma atualidade perturbadora.

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