Feijão na tela

Feijão na tela

Rubem Penz

Tem uma questão bastante antiga e bem interessante: um amigo, amigo de verdade, avisa ou não quando estamos com um feijão no dente? Vale o mesmo para bragueta aberta, etiqueta de preço ainda pendurada na camisa etc. E aí: avisa? Sim ou não? Eu considero que sim.

Eu sei, é constrangedor. Às vezes estamos em grupo e o aviso precisa ser discreto – por exemplo, apontar para nosso próprio dente olhando bem nos olhos do interlocutor na torcida de que ele se dê conta (no caso da bragueta, por favor, esse método é totalmente desaconselhado, nem preciso explicar as razões). A etiqueta na camisa nós mesmos podemos tomar a iniciativa de tirar, diferentemente do feijão no dente (fora da cadeira do dentista, ninguém merece receber uma passada de fio dental por terceiros). Contudo, em qualquer dos casos, quanto menos chamarmos a atenção, tanto maior será o alívio. Sabe-se lá a quanto tempo a pessoa esteve sem um amigo de verdade a salvar-lhe da vergonha. Aumentar o embaraço com indiscrições é lastimável.

De tudo – das muitas lições deste triste episódio – fica uma notícia boa: no ambiente virtual existem amigos, amigos de verdade.

Pois em nossas relações virtuais acontece acidentes semelhantes. Minutos atrás – ou seja, um pouco antes de eu começar a escrever – uma querida chamou minha atenção para um feijão meu na tela. Postei um cartão de aniversário errado na timeline de uma amiga em comum – o nome estava incorreto. Desastradamente, capturei o arquivo anterior. Discretamente (numa mensagem privada) fui avisado. Rapidamente corrigi. Felizmente sem maiores consequências. Ufa! Devo ter passado um pouco de vergonha, nem sei quantos leram. Descuido total. O horror para pessoas como eu, que lidam mal com as falhas.

De tudo – das muitas lições deste triste episódio – fica uma notícia boa: no ambiente virtual existem amigos, amigos de verdade. Os mesmos que se compadecem quando estamos fragilizados e correm para acudir. Aqueles a salvar nossa pele, a zelar por nossa imagem, a cultivar a empatia. Nem tudo está perdido, pessoal! A selvageria tenta impor sua agenda, mas a gentileza sobrevive nos cantinhos da existência, discreta e solidária como deve ser.

Obrigado, Ana! Salvou o dia duas vezes: ao corrigir minha falha e ao dar um ótimo tema para a crônica da semana. Nossa, estou na dívida!

 

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