Uma crônica do ano de 2005

Coluna do Metro em 30.01.2013

UMA CRÔNICA DO ANO DE 2005

Diante das cenas de Santa Maria, lembrei-me no ato: com o título “Agouro?”, publiquei algo que hoje soa desconcertante. Era a crônica de uma tragédia anunciada, resultado do que senti dentro de uma casa noturna. Encontrei. Relendo, vieram as duas palavras mais amargas e tristes e inúteis que se pode pronunciar: eu sabia. A seguir, um pouco resumida, a obviedade de que escrever foi pouco. E o pouco deu em nada. Aliás, deu no que deu. Vejam o que publiquei em 15 de abril de 2005.

AGOURO?

“Agência de Notícias Possíveis (ANP)  Porto Alegre – Já passam de duzentos os mortos oficiais, em sua maioria jovens, no incêndio de uma casa noturna da capital gaúcha. Muitos morreram asfixiados pela fumaça, enquanto outros sucumbiram pisoteados. Os hospitais da cidade estão lotados e uma multidão de pais se aglomera nas proximidades do local em busca de notícias.”

Logo após a tragédia ocorrida em Buenos Aires, (…) quando dezenas de meninos e meninas morreram assim que o bar/teatro no qual assistiam a um show pegou fogo, pensei: agora alguma coisa vai mudar em nossas casas noturnas! Afinal, todos, como eu, que já estiveram dentro de um local desses numa noite lotada, sabem que habitaram uma ratoeira. (…)

Fico imaginando o quanto de tranquilidade teriam os pais se soubessem que, antes de a banda de rock predileta do filho entrar no palco, o telão da casa noticiasse as providências para caso de incêndio, como luzes de emergência acendendo-se automaticamente. Além do mais, portas corta fogo equipadas com sistema antipânico estariam bem sinalizadas e os funcionários treinados para agir nos casos de emergência. (…)

Duvido que uma mãe ou pai seja insensível ao apelo de um adolescente que deseja ir ao espetáculo que nenhum dos amigos perderá. Deixar os filhos dentro de casa salvaguardados dos inúmeros perigos do mundo real jamais será solução, pois as crianças estarão fadadas à infelicidade. (…)

A única saída será os pais visitarem o lugar antes de comprar o ingresso. E, no caso de considerá-lo pouco seguro, dizer claramente ao responsável pela casa as razões para ele não receber o dinheiro. Depois, justificar-se com os pais dos amigos, aconselhando-os a fazerem o mesmo. Desprezíveis dois ou três pais por dia reclamando melhores condições de segurança farão mais efeito do que centenas de mortes na distante Buenos Aires, no esquecido dezembro de 2004.

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