Cocô bomba – A&DPBP*

O conceito, ou o nome, é novo. O fato, eterno. A primeira vez que eu ouvi foi numa propaganda de fraldas descartáveis que prometia blindar o entorno daquele cocozão gigante, usualmente de pastoso para líquido, capaz de fazer qualquer ser humano questionar o tamanho do intestino daquele pequeno ser ora denominado bebê. E seu alcance. E seu potencial tóxico. E sua capacidade residual.

A realidade escatológica de lidar com os filhos ainda incapazes de controlar esfíncteres é, no mínimo, didática. Vários conceitos complexos são simplificados quando afundamos o dedo na merda. É o ser humano em contato íntimo com sua essência, seu cheiro, sua consistência e cor. Adoram dizer “falta para essa pessoa lavar uma louça” quando ela se mostra incapaz de estabelecer uma escala de valores minimamente lógica. E diria: falta trocar uma fralda cagada.

Volto ao assunto: cocô bomba. Aconteceu no passado, é claro, com Ivan e Clara. Minha mais recente experiência foi num momento especial. O destino é craque em fornecer momentos especiais. Era a primeira viagem da Vanessa a trabalho na era Agatha – seria a segunda, mas a enchente de 2024 a impediu de ir à mais importante feira do setor hospitalar em São Paulo ano passado. Inteira, inteirinha, uma só noite de filha sem mãe e mãe sem filha. Hummm, pensou o destino. Cirúrgico.

Noite de dar aula. Deixei Agatha com a vovó para jantar e dormir. Disse que voltaria a tempo de dar o último mamá do dia e trocar as fraldas – daria tempo. Porém, no meu retorno, vovó assistindo TV, quando fui ao encontro da filha, o quarto estava muito fedorento. Muito. Muito mesmo. Chernobyl. Chamei reforços. Trocamos mais do que a fralda: trocamos toda a roupa. Muitos lenços umedecidos depois, pensei que o certo teria sido haver colocado a criança no chuveiro. Claro que precisava ser naquela noite específica. Era um caso clássico de alinhamento de astros.

Pobre de quem passa uma existência inteira sem a oportunidade de gerenciar uma conjuntura como o enfrentamento das consequências de um cocô bomba. Pobre de quem acredita que a fralda do comercial dará conta, e será silencioso, inodoro, asséptico resolver o problema. E o bebê fará gracejos como na TV. Meu desejo, especialmente aos mimizentos, não tem nada de sádico ou rancoroso: acredito de-ver-da-de ser reveladora a situação. Emergimos pessoas melhores ressurgidos das fezes. Conectados com Pacha Mama. Ou, no caso, com Pacha Papa

*Aventuras & Desventuras de um Pai Bem Passado

4 comentários em “Cocô bomba – A&DPBP*”

  1. Para uma melhor experiência do leitor, imprimir, borrifar spray de peido ao papel.
    “Você pode encomendar online”.
    Mera coincidência, estou nesse trecho, nessa específica frase, no livro “Emocional” de Leonard Mlodinow.
    Ouça o áudio livro entre os minutos 2:55:00 – 2:60:00, aqui:
    https://www.youtube.com/watch?v=9zNly0CoE1I&t=7434s .
    Recompensa para jovens dispostos a passar pela experiência de leitura, ou pela experiência da troca de fraldas: barras de chocolate Nugali.

    Oi, Rubem!

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