Número 256

CONCORRÊNCIA PASCAL

 

Aproxima-se o final do convênio dos coelhos para animal símbolo da Páscoa. O Criador dá sinais de que pode não fazer outra renovação automática. Com tais rumores, os exemplares do Diário Oficial se esgotam rapidinho. E, de acordo com o Edital, para participar dessa concorrência animalesca é preciso cumprir uma exigência prévia: não estar em vias de extinção – sabe como é, os contratos com o Senhor são longos. Cumprida a premissa, basta à espécie encaminhar um envelope com breve arrazoado defendendo os motivos para ser, dali em diante, a nova alegoria de fertilidade. Tive acesso a algumas propostas. Revelo com exclusividade.

 

Ratos de Páscoa.

Nós, ratos, pleiteamos o cargo de animal símbolo da Páscoa por sermos tão ou mais férteis do que os coelhos. Além do mais, somos mais numerosos. Muitos de nós prestam relevantes serviços à ciência (ratos tão brancos quanto os tradicionais coelhinhos). Com adequado trabalho de marketing, revertemos fácil qualquer imagem negativa – vide os cases do Topo Gigio, Stuart Little, Ratatui e, claro, do Mickey. Periodicamente, podemos promover a integração Ocidente/Oriente via Ano do Rato do calendário chinês. Por fim, temos o apoio de grupos econômicos de peso (Disney) e somos mais onipresentes do que MacDonald’s.

 

Galinhas de Páscoa.

Nós, galinhas, nos candidatamos ao cargo de animal símbolo da Páscoa por atender plenamente o critério da fertilidade. A proximidade com o homem e a continuidade da espécie são garantidas por larga criação em cativeiro. Além do mais, nosso macho, o galo, já participa ativamente da vida cristã, tendo uma importante missa batizada com seu nome. O primo peru, só para ficar nas motivações familiares, representa com dignidade a classe das penosas no Natal. A pomba, na celebração da paz. Porém, o maior diferencial de nossa oferta é a extinção do dilema dos pais em época pascal: explicar o porquê do coelho se ele não põe ovos.

 

Formigas de Páscoa.

Nós, formigas sindicalizadas, reivindicamos o direito de galgarmos o posto de verdadeiro e único animal símbolo da Páscoa (tema de Ação Trabalhista em curso). Afinal, desde o começo da tradição de se oferecer presentes de origem alimentícia, mui especialmente chocolate, já fazemos parte da festa de modo informal e clandestino. E somos vítimas de perseguição e morticínio nessa jornada. Denunciamos, também, que os coelhos ganham sem trabalhar: a criança chega no ninho e nunca, jamais encontra um só roedor. Mas, se vacilar, lá estaremos nós, as diligentes formigas. Centenas de nós. Milhares! Logo, sobre fertilidade, nem precisamos falar.

 

Bicho-Preguiça de Páscoa.

Sabemos que fertilidade não é o nosso forte. Tampouco botamos ovos. Somos encontrados somente em florestas tropicais. Não temos nenhum elo com o Cristianismo além do fato de sermos filhos de Deus (e até Ele duvida). Por nós, ficávamos aqui bem quietinhos, cuidando para não sumir do mapa junto com o as matas nativas. Mas existe um lobby de pais para que nos candidatemos ao cargo de animal símbolo da Páscoa. Motivo: quando a data se avizinha, as crianças surtam, o comércio enlouquece, a imprensa exagera, a Igreja diz que nada disso tem valor sem Cristo no coração e eles, os pais, são tomados por uma súbita, fértil e imorredoura preguiça…

4 comentários em “Número 256”

  1. Adorei o texto. Se houver eleição, estou em dúvida: voto no rato ou na galinha? Como não tenho filhos pequenos e os netos não querem chegar, confesso que não me entusiasmou a candidatura da preguiça. Uma ótima Páscoa para vocês!!!
    Mara

  2. Obrigado, Mara! Mas há rumores de concorrência frauulenta, com as coelhinhas da Playboy entrando de corpo e alma no lobby para fazer aprovar a nova proposta dos coelhos…
    Feliz Páscoa para vocês também!

  3. Eu e meu esposo moramos na linda cidade de New Orleans. Ele ficou sabendo por intermédio de um amigo que haverá um “desfile gay de Páscoa” neste domingo. Para não ser politicamente incorreta no blog, vou deixar vocês adivinharem que “bicho da Páscoa” que me ocorreu…!

    Uma maravilhosa Páscoa para todos!

    Carlinha

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