Número 275

$EPARAÇÕE$

Desde que foi instituído, em 1977, o índice de divórcios cresceu mais de 50% no Brasil. Este percentual ganharia ainda mais vitamina se fossem computadas as separações de casais que, mesmo tendo vivido em situação matrimonial, romperam depois de alguns pares de anos sem jamais terem pisado em um cartório. Os fatores que contribuíram para este fenômeno são muitos e de toda ordem. Mas, diante do vultoso número de ocorrências, se acontecesse de todos os casais de hoje adotarem o “até que a morte os separe” ou, pior, o “viveram felizes para sempre”, quebraria a economia nacional.

Sei que separação, mesmo quando consensual, é um negócio terrível. Cada qual sai juntando os cacos dos ideais quebrados ao despencar da prateleira elevadíssima das expectativas amorosas. O que me ocorreu agora, lendo uma despretensiosa e divertida reportagem de revista masculina, é que, além de dramáticas, as separações são geradoras de ótimos negócios. Os advogados sabem muito bem disso. Porém, a cadeia econômica que se beneficia do fato vai muito além das varas de família.

Instalada a crise em um casal de classe média, a primeira categoria que se inscreve para auferir lucros é a dos psicólogos. (Sim, sim: tem outra turma que ganha dinheiro antes ainda, quando o casal fica de mal. Mas essa não passa recibo.) Nos consultórios, cônjuges e filhos se preparam para o que está por vir, elaboram perdas, projetam convivências. Dependendo da taxa de êxito alcançada pelos psicólogos, os laboratórios virão a faturar com produtos diferentes: em um extremo, antidepressivos. No outro, preservativos.

Marcada a data, chega a vez do setor imobiliário entrar na roda: é preciso comprar ou alugar um apartamento novo; vender a casa para ser transformada em dois apartamentos; vender do apartamento para virar um carro e um JK, essas coisas. Empresa de mudança, arquitetos, pedreiros, pintores, eletricistas, encanadores e diaristas são os próximos a escutar o telefone tocar – isso quando a mudança não acontece para um apart-hotel.

Passada esta fase, está na hora das lojas e indústrias da chamada “linha branca” e moveleira tirar sua lasquinha: no kit básico está o fogão, geladeira, máquina de lavar roupa e louça; cama, mesa com cadeiras, armários e sofá. Mas não pára por aí: lençóis, toalhas, panelas, pratos, talheres, copos e – importante! – taças. Lustres, cortinas, tapetes… Nossa! Quanta coisa se precisa para uma nova casa!

Antes de voltar ao setor de serviços, vamos para os últimos objetos indispensáveis que me ocorrem: muita roupa nova, óculos mais modernos, sapatos, maquiagem, lingeries, cuecas com o elástico funcionando e tudo o mais que possa devolver um pouco de auto-estima. Ou, no mínimo, disfarçar o estado deplorável.

E, enfim, chegamos na gama de novos serviços. (Não, não falarei daqueles sugeridos no início, pois para eles não se passa recibo.) Academias de ginástica lucram na hora – com sorte, logo antecedidas do cardiologista. Cirurgiões plásticos, esteticistas, endocrinologistas – para uma dieta responsável –, garçons, motoristas de táxi, redes de motéis, agências de viagens e um sem-número de profissionais esperam com avidez pela dissolução matrimonial, de olho na mudança de comportamento do ex-cônjuge.

Não ouso afirmar que casais casados não se enfeitam, cuidam-se, namoram, viajam, renovam a casa ou precisam se tratar. Só acho que um divorciozinho dispara uma série de conseqüências que tendem a movimentar a economia. Daqui a pouco, vão culpar quem casou uma só vez pela queda no mercado de ações. Além de estar traumatizando as crianças.

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