Número 287 e convite

Convite:
Lançamento de Ponto de Partilha I,

organização de Valesca de Assis & Rubem Penz, Ed. Kalligraphos

Tenho o imenso prazer em convidar você para a tarde/noite de autógrafos dos autores oriundos das oficinas literárias de Valesca de Assis. A saber, foi com Valesca que cursei minha primeira oficina e, ao lado dela, também estreei na função de orientador. Se já não bastasse, tive a honra de participar deste livro cumprindo a função de co-organizador, além de escritor. Venha compartilhar essa nossa conquista! Sua presença nos será grata.

Quando: 20 de outubro, segunda-feira, da 17 às 20h
Onde: Alameda dos Escritores do Shopping Total, Av. Cristóvão Colombo, 545, Porto Alegre

REPARANDO BEM…


“Reparando bem
Todo mundo tem *
Só a bailarina que não tem”

Edu Lobo, Chico Buarque & Censura


Reparando bem na primeira gravação de Ciranda da Bailarina, de Edu Lobo e Chico Buarque, contida no álbum O Grande Circo Místico, o censor da época sonegou dos ouvintes a palavra pentelho. Este tema violentado, parcela de uma obra maior e desenvolvida para um espetáculo do Ballet Guaíra, vinha com a interpretação de um coral de crianças. Quanta ironia! Mesmo assim, seu alvo era, por tudo, o público adulto. Reparando em uma versão mais recente da mesma Ciranda, feita por Adriana Calcanhoto no CD e DVD Adriana Partimpim, o pentelho outrora suprimido aparece pronunciado com todas as letras, sem constranger ou escandalizar ninguém. E, olha a ironia outra vez, faz parte de um trabalho dirigido para crianças!

Reparando bem no manifesto de Pedro Cardoso contra o uso apelativo e indiscriminado do nu em espetáculos de teatro, cinema e TV, fulcro de uma polêmica em voga, é direta a associação de sua proposta com o antigo comportamento da censura. Afinal, tanto antes como agora, o que está em questão é a moral ou, mais especificamente, a pornografia. Reparando nos argumentos de quem repudia a iniciativa do ator, fica evidente que a sociedade está cada vez mais tolerante com a exposição corporal. A nudez, sim, tornou-se algo banalizado: de tanto ver homens e mulheres pelados, nem mesmo as crianças se escandalizam ou se surpreendem. E isso desmontaria a tese do apelo pornográfico no uso constante do nu.

Reparando bem no objeto da polêmica, no caso a mulher tornada objeto (e o homem também), Cardoso está coberto de razão quando denuncia uma grande dose de gratuidade na exposição de atores sem roupas. Cruel, até, pois condiciona os profissionais aos padrões estéticos das revistas especializadas, deixando os critérios da fita métrica em um patamar adiante do verdadeiro talento de interpretação. Reparando em seus detratores, a profusão de artistas desnudos viria a ser um desserviço para o uso do nu com determinada intenção, tenha ela um caráter sensual ou o objetivo de chocar, ferindo de morte tal recurso. Não nos esqueçamos de que um umbigo de fora já foi motivo de escândalo no passado recente!

Reparando bem no pentelho subtraído da música do Edu e do Chico, ele acabou premiado com um valor erótico superior ao da intenção original no momento em que o silêncio toma o seu lugar. Agora, de volta ao poema, o pêlo pubiano regride para a categoria do banal (todo mundo tem) e do infantil (todo mundo fala), quase suprimindo da impúbere bailarina o caráter de pureza. Assim, chega-se à conclusão de que frear em certa medida a nudez indiscriminada será uma forma de devolver ao corpo revelado o seu caráter dramático. E, neste sentido, quem condena o ator Pedro Cardoso por considerá-lo puritano, não vê o quanto, por assim dizer, se valorizará o nu ao evitarmos o exagero.

Reparando bem, o Agostinho/Pedro Cardoso é o verdadeiro sem-vergonha dessa história. E quem permite e promove a superexposição dos corpos, com o tempo, fará nosso ânimo amolecer de vez.

2 comentários em “Número 287 e convite”

  1. NUAS VERDADES!
    Maravilha de texto. Pela visão, com a qual concordo inteiramente, pela forma, sempre redonda, fluida, direta, sem artifícios,’crua’, tal qual completa o clichê.

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