Número 211

O PESADELO ACABOU

 

Notícia: Sandy e Junior anunciam o final da carreira de dupla. Final brasileiro, é certo: eles começam um novo projeto acertado com a MTV, que garantem ser o último. Em nossas bandas, com o perdão do trocadilho, nem as ações definitivas, como é o caso de final, deixam de ser lentas, seguras e graduais. Quem já passou dos quarenta sabe do que estou falando. Louvemos a notícia e seu valor simbólico.

 

Em dezessete anos de carreira, os irmãos cantores bateram a casa dos quinze milhões de discos vendidos. Contra estes números não há argumento: eles são a imagem e o som do sucesso. Acompanhados de profissionais competentes desde a primeira nota aguda, Sandy e Junior se revelaram artistas em constante amadurecimento e merecedores de suas conquistas. Impossível assistir a um show dos meninos sem ficar fascinado com o espetáculo. Ninguém é obrigado a gostar da música da dupla, mas a todos cabe reconhecer seus méritos.

 

Dito isto, por que comemoro o fato de eles se separarem? Óbvio: Sandy e Junior não podem ser mais representativos do que considero a pior fase da Música Popular Brasileira (MPB). Eles são os filhos prodígio do formulismo das gravadoras, do sucesso enlatado, da tentativa vil de sepultar o grande mérito da sonoridade nacional: sua pluralidade. Para piorar, prostituindo uma raiz bastante autêntica – a música sertaneja do Sudeste e Centro-Oeste. Os meninos não são culpados por fazer tanto sucesso. Nós somos.

 

Em 1991, exato ano em que os filhos de Xororó e Noely iniciaram a carreira conjunta, vivíamos no país a era Collor. A lenta e gradual democracia virara realidade e, com isso, deixava de ser a utopia salvadora que impulsionou uma geração magnífica de músicos. Em 1989, caíra o Muro de Berlim. Estava montado o cenário para um mergulho no torpor do fim da festa. Por um lado, tudo parecia já ter sido dito. Por outro, o silêncio das vozes dissonantes favorecia os negócios. A MPB veiculada nas rádios, em regra, tornou-se uma pasta brega. Abriu-se a porta para o mau-gosto. Um pesadelo. Parece piada, mas coube ao importado Rock salvar a pátria verde-amarela.

 

Não há bossa-nova que sempre dure, nem onda sertaneja que nunca termine. Hoje ouço a Sandy cantando Tom Jobim e Cole Porter. O Junior, com pendência pop, Soul Music. O salto que pretendem dar em direção ao público adulto é o mesmo que os está afastando da raiz caipira-romântica. Isso não é coincidência. Os ventos renovadores da internet enfraqueceram o poder das gravadoras e, mesmo sem se extinguirem, os Brunos & Marrones da vida perderão a força que os fazia absurdamente hegemônicos. Por sua vez, emepebistas que pareciam fazer música às escondidas (da mídia), aos poucos, retornam para as FMs, trilhas de novelas e teatros. Posso ver o sorriso largo da Elis Regina lá no céu. O sonho não acabou.

 

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Por falar em música, dia 27 de abril, sexta-feira, estarei com o Grupo Versão Brasileira* no auditório da Livraria Cultura – Bourbon Country, 2º piso –, às 19:30h. Para o show, standards de jazz e composições próprias. Ingresso: 1Kg de alimento não perecível.

 

Fica o convite!

 

* Felipe Braga (sax) Antônio Xavier (violão e guitarra)

Marcelo Leal (contrabaixo) Rubem Penz (bateria)

5 comentários em “Número 211”

  1. Puxa, talentos insuspeitados!
    Parabéns!

    Eu fui percusionista em décadas passadas; hoje, só me sobraram os instrumentos que entulham a garagem de meu sogro…

    Sobre Sadiejúnior, tenho medo que isso represente uma multiplicação por dois da tolice… Mas, enfim, nossa sorte é que o pequeno Júnior nunca foi muito talentoso e é promessa de um “mico” total…

    Um abraço, Beto

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