Coluna do Metro Jornal em 03.12.23
Um encarte de moda masculina que vi hoje acaba de me absolver. Nele, os modelos altos, jovens e atléticos estão com as camisas para dentro das calças. Ali, um pouco abaixo de nosso centro de gravidade (quando estamos de pé e eretos), em destaque, as fivelas dos cintos. Por que estaria com este sentimento de absolvição? Por respaldo, ou simplesmente pela razão de gostar de me vestir dessa forma específica. Ou melhor: por estranhar em mim a tendência das camisas e camisetas para fora das calças.
Parênteses. Meninas, atentem para uma rara confissão masculina: sim, prestamos atenção no que vestimos, em como vestimos, nas escolhas diante do espelho. Gastamos quase um minuto inteirinho avaliando se algo ficou bom ou ruim. Também custamos, em média, uma vida compondo uma espécie de estilo próprio, reconhecível no entra em moda e sai de moda. Até os fashionistas são seletivos em termos de tendência: nem tudo que o momento propõe será adotado sem um filtro pessoal.
Voltando para dentro das calças, quero dizer que já tentei me sentir à vontade com camisas mais justas e feitas sob medida para darem vista da gola até a fralda. Vejo que fica bacana em um monte de gente. Também reconheço que favorece alguns tipos físicos (atenua determinadas relações de dimensão entre tronco e pernas, larguras a mais ou a menos na cintura, anos de vida). Também deixa um ar mais leve. Então, perco quase quarenta segundos me achando mais descolado para, durante os próximos vinte, quase como uma rendição, colocar a camisa para dentro da calça e concluir que melhorou.
Outra coisa: cinto. Não sei vestir calça sem colocar um cinto, precise ou não. Certo, quase sempre precisa, mas nas raras vezes em que seria dispensável, ponho assim mesmo. Nós homens temos menos da metade dos recursos de indumentária para dar recados sobre a personalidade, não podemos abrir mão de nenhum deles. Talvez por isso, muitos se curvem ao uso de brincos, tatuagens, correntes, piercing… De alguma forma desejamos passar nossos modo de vida. Os mais tradicionais apelam para relógios, roupas, calçados, cortes de cabelo, cintos, essas coisas triviais.
Qual a razão deste assunto tão comezinho na crônica de hoje? Considero importante dizer que, por trás deste tema pouco relevante o qual, no máximo, reforçará as convicções de quem, como eu, gosta de camisa para dentro das calças, há uma inquieta reflexão. Ainda engatinhando, reconheço, estamos cada vez menos dependentes das mulheres. Isso será fundamental para conquistar o amor e a admiração da geração pós-feminista. Seja para dentro ou para fora da calça, elas desejarão homens que saibam lidar com suas próprias fraldas. Refiro-me as da camisa, mas há quem leia alguma metáfora.