Rubem Penz
1. Hoje, só não faço parte de um grupo de pais aos prantos e unidos em torno do desejo de justiça para reparar ferimentos e mortes de dezenas de jovens pelas bênçãos da sorte. Quinta-feira passada, vindo de Charqueadas, um ônibus da UFRGS com estudantes de Engenharia sofreu um acidente. De um lado, a soma de veículo com claros sinais de falta de manutenção (a meninada é testemunha), ausência de cintos de segurança (isso não é magnífico, reitor?), direção temerosa (para ser brando) e tempo chuvoso. Do outro, a sorte de a vegetação ter impedido que o veículo desbarrancasse para longe da estrada capotando, deixando-o num ângulo de 45° sem ferir ninguém (por centímetros, um dos alunos não foi lancetado por um galho). Bem assim: de um lado, uma absurda cadeia de irresponsabilidades. De outro, a graça divina. Hoje, estou poupado de chorar porque, desta vez, Deus não “Kiss”.
2. Há um quê de melancolia na data de Dia dos Namorados para os que estão sós. Alguns buscam lidar com isso frequentando festas de solteiros nas quais o sexo servirá de barganha para a tentativa de resgatar a alma do prego. Outros, aí sim libertinos (ainda que se considerem virtuosos), atiçarão as brasas da solidão em rituais de isolamento – como quem pretendesse punir o corpo pelo mal que ele não fez. Porém, a maioria, na qual me incluo, aproveitará a data para balanço: lançar atos e omissões nas colunas de débito e crédito, medir o passivo, analisar o grau de depreciação do patrimônio, auferir se está com o nome limpo na praça. E jogar despretensiosa conversa fora! Pode parecer estranho usar termos de contabilidade para tratar do caso, mas tenho cá meus particulares motivos. E vou além: balanço é, no fundo, o que há de mais sensato para se fazer no dia 12 de junho. Inclusive, e secretamente, isso estará acontecendo nos corações dos que têm par (quem sabe em relações que caminham a passos largos para a falência).
3. Impossível não falar em Copa do Mundo. Páginas e páginas de jornais (tanto que até nos enfara) são ocupadas porque, enfim, assunto é o que não falta num evento desta proporção. Mais ainda num país em que o futebol tem importância desproporcional – um dos nossos menores problemas. Escolhi, de propósito, um detalhezinho bem miúdo para abrir meus comentários pessoais sobre o futebol. Vocês já viram o time da Grécia no álbum de figurinhas da Copa? Fez-me lembrar das aulas de história. Longe de serem virtuosos no trato com a bola, os gregos parecem ter apostado no caráter simbólico do esporte e, com talvez duas ou três exceções de “atenienses”, convocaram os demais atletas nos regimentos “espartanos”. Se jogam bem, não sei. Mas que os caras parecem guerreiros e assustam, ah assustam!
Crônica publicada no Metro Jornal Porto Alegre em 10.06.2014
Rubem, amigo querido.
Bom te ler. Aliás é sempre assim. Bom, principalmente, te saber livre do pranto que uma tragédia provocaria. A melancolia de datas, comercialmente, preparadas transformada em balanços ou reflexões me faz lembrar Cyro Martins, com quem tive o privilégio de conviver em psicoterapia durante dez anos e cujas palavras repercutem em mim, até hoje, quando dizia: – A solidão é importante para o reencontro consigo mesmo, e quem rompe alguma ligação; isso visa à prearação para acertos futuros. Quanto ao bombardeio que o futebol faz sobre todos nós, vai passar. Ah vai. Por enquanto, esquecendo as mazelas de 7 anos de desperdícios, resta-nos torcer para que tudo aconteça o melhor possível. Grande beijo.
Rubem, amigo querido.
Bom te ler. Aliás é sempre assim. Bom, principalmente, te saber livre do pranto que uma tragédia provocaria. A melancolia de datas, comercialmente, preparadas transformada em balanços ou reflexões me faz lembrar Cyro Martins, com quem tive o privilégio de conviver em psicoterapia durante dez anos e cujas palavras repercutem em mim, até hoje, quando dizia: – A solidão é importante para o reencontro consigo mesmo, e quem rompe alguma ligação; isso visa à prearação para acertos futuros. Quanto ao bombardeio que o futebol faz sobre todos nós, vai passar. Ah vai. Por enquanto, esquecendo as mazelas de 7 anos de desperdícios, resta-nos torcer para que tudo aconteça o melhor possível. Grande beijo.
Corina, querida,
É um luxo contar com tua leitura, com tua solidariedade, tua observação.
Muito, muito obrigado!
Abração, Rubem
Deus não “Kiss”, foi ótima.
Ótimo foi não ter acontecido nada. Quer dizer, aconteceu! Mas tivemos sorte… Abração, grato, Evandro!