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Rubem Penz

Voltava para casa como sempre faço ao encerrar o dia, isto é, enfrentando o trânsito de uma das grandes artérias que comunica Porto Alegre com a região metropolitana, quando fui ultrapassado por uma motocicleta. Até aí, nada de novo: as motos costuram as faixas de rodagem feito lebres, deixando os automóveis mais parecendo paquidermes. O inusitado apareceu de carona na carona. Escrita na faixa de tecido logo acima das almofadas da bunda daquela moça, a chamada de um site o qual não revelarei, mas que se comunicava com o mundo das duas rodas. Isso é o que chamo de bom veículo de comunicação!

Todos sabemos o quanto fica em evidência o traseiro das meninas que acompanham os pilotos em motocicletas potentes – máquinas em formato de cunha para cortar o vento, agudas na dianteira e altas atrás. Empinam sobremaneira aquilo que a natureza tropical tanto gosta de ostentar na paisagem feminina. Só não olha quem já morreu. Minha surpresa reside no desprendimento tanto do rapaz com relação à namorada, quanto dela para com os olhares insidiosos. Mais do que aceitar a superexposição, o casal passou a tirar proveito disso, contabilizando cliques em sua página. Ao invés de mulher fruta, mulher outdoor.

É óbvio que fiquei imaginando qual natureza de negócio poderia tirar benefício desta mídia. Os mais cotados teriam alusão aos pensamentos imediatos: www.moteletc.com.br, www.problemasdeerecao.com.br, www.academiapoweretal.com.br. Também os anúncios ao estilo “quer emagrecer, pergunte-me como” cabem ali, pois uma nádega bem estruturada atrai olhares femininos em igual proporção aos masculinos. Com um pouco mais de criatividades, oftalmologistas teriam bom resultado (www.drfulanooftalmo.com.br), lojas de travesseiros (www.encosteacabecaaqui.com.br), advogados especializados em divórcios (www.divorcieja.com.br) ou mesmo boas marcas de gelatina. Com o perdão do quase trocadilho, o céu é o limite.

Resta saber se os anunciantes topariam lançar mão dos veículos próprios – esposa, namorada, filha ou “sua bunda” –, alugariam espaços na anatomia alheia, ou escreveriam as mensagens nas roupas ao estilo grife, imaginando obter propaganda colaborativa. E a tabela de preços? Influiria simplesmente as polegadas, ou subiria o preço relacionando medidas de cintura? Enfim, num mundo onde tudo vira negócio, correr pelada pode até render notícia, mas andar de moto vestida pode valer algum dinheiro.

Coluna publicada no Metro Jornal em 18.11.2014

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