Rubem Penz
Andar pelas ruas da cidade faz toda a diferença. Na caminhada, a velocidade permite desfrutar de nuances jamais imaginadas. Uma delas, talvez nada importante, porém muito divertida, é ler placas de lojas, bares e restaurantes. Quando o tema é refeição comercial, o constante prato de arroz com feijão, batatas fritas, bife, ovo e salada de alface e tomate aparece de traiçoeiras formas, variações do esperado “à la minuta”.
Por exemplo, alaminuta. Assim mesmo: sem espaços entre as letras e sem crase. Bom, feio não é. Para alguns, tirar a crase significa evitar aquela afetação incompatível com a refeição rápida. Mas, convenhamos, nem é preciso talher de peixe para encarar uma crase, pessoal! E o problema é que qualquer professora de etiqueta condenaria o modo aglutinativo de servir tudo amontoado – arroz fazendo a base e os demais componentes montando uma temerosa pirâmide. De toda sorte, “alaminuta” tem igualmente arroz com feijão, batatas fritas, bife, ovo e salada de alface e tomate.
Ala minuta é outra variante bastante comum, onipresente. O erro, convenhamos, guarda certa lógica: dividiria o restaurante em alas, estando os apressados no setor da refeição feita em um raquítico minuto. Ou, ao pegarmos o termo minuta no sentido de rascunho, seria tal ala a que aceita se alimentar de uma comida simples, tosca, mal-acabada. Ainda assim, penso eu, correta: “ala minuta” seguiria com o bom e velho arroz com feijão, batatas fritas, bife, ovo e salada de alface e tomate.
Uma forma que ainda não vi, mas imaginei interessante, seria al aminut ah. Sairia a influência francófona para dar lugar ao também importante viés árabe, presente na sociedade brasileira desde antes das descobertas (história: a península ibérica foi dominada por mouros durante centenas de anos). O problema é que os clientes pensariam vir no prato algum quibe, pasta de grão de bico ou esfiha… E o café não poderia ser coado. Todavia, à mesa, viria o persistente arroz com feijão, batatas fritas, bife, ovo e salada de alface e tomate.
Passear pela rua oferece tal visão: em cada esquina a “à la minuta” muda de nomenclatura. O prato? Este é sempre o mesmo. Pensando bem, isso se parece com a política brasileira. Nela, seja qual for o chef do momento, o que foi cometido na cozinha aparece na placa para o eleitor com nomes variados: equívoco, erro, desvio. Na prática, porém, o cidadão sempre sabe o que precisará engolir: arroz com feijão, batatas fritas, bife, ovo e salada de alface e tomate. E a conta.
Crônica publicada no Metro Jornal em 15.09.15