Rubem Penz
Coincidiu neste final de semana de eu conversar com dois jovens aflitos em busca de respostas diante de algumas escolhas para os rumos de suas vidas. Para um deles, fui um conselheiro conservador: disse que seu desapontamento diante da condição da universidade, ou em comparação com as expectativas que nutria antes de iniciar o curso, não seria o melhor parâmetro para abandonar o curso. Principalmente no seu caso, em que pretende seguir a carreira para a qual o currículo contempla. De acordo com meu filho, seu amigo estaria sendo vítima da “síndrome de terceiro semestre”, que pode também ser sentida no quarto, cujo sintoma mais comum é “o que estou fazendo aqui?”. Abandonar o curso, definitivamente, deixará lacunas na biografia complicadas de contornar. Nunca impossíveis.
(Ressalva importante: a “síndrome de terceiro semestre” tem sua face positiva – quando faz o jovem trocar de direção para corrigir uma escolha imatura, equivocada ou influenciada por terceiros, optando por novo caminho de claro pendor. Vemos isso com frequência.)
Porém, quando fui defrontado com a segunda angústia, amplificada pela dor da saudade, não encontrei as palavras. Uma ampulheta cuja areia se esgota em dezenas de dias pressiona uma jovem de dezesseis anos a optar por estar em continentes díspares e distantes no futuro próximo. Um nó difícil de encarar. Pior: sem nenhuma garantia de estar firme depois de estabelecer laços. O dilema só não é trágico porque ela consegue definir algumas recusas com clareza, e saber o que não se quer é um bom começo. Após nossa conversa, reverberaram em meu peito minhas próprias escolhas, algumas positivas, outras incompreensíveis. Todas (trans)formadoras.
A paz só voltou faz pouco, horas antes de eu sentar diante desta crônica. Dei-me conta de que todo cenário montado com base no “e se”, ou seja, naquilo que não fez parte de nossas opções, é ficcional. Depois de uma decisão, tudo mais inexiste. Quando temos elementos seguros para determinar medidas, quando somos movidos por valores, quando somos guiados por objetivos, não há erro ou acerto. Há percurso, com suas curvas, acidentes, aclives, retas, retrocessos. Agora está claro: se óbvios enganos aconteceram no transcorrer de minha vida, em especial na juventude, um mínimo desvio já seria suficiente para mudar o destino a ponto de tu não existires, minha filha. Logo, comemoro todos os meus equívocos. E meu conselho é: confie em ti tanto quanto eu confio. Dificilmente serás mais estabanada do que teu pai.
Crônica publicada no Jornal Metro em 21.02.17