A empresa alemã que administra o Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, deve ter compreendido desde muito cedo que placas de proibição de estacionamento não inspiram muita autoridade por aqui. Historicamente, para não pagar por vagas quando vamos apenas deixar ou buscar alguém – o famoso instantinho –, sempre foi hábito lançar mão da lateral dos leitos de rodagem com muita desenvoltura. Agora, há cancelas transformando tudo em estacionamento pago.
Aos reclamantes e seus advogados caberá a contestação desta novidade – como leigo, não saberia delimitar o alcance do direito de cobrar o tempo de estada nos acessos aos terminais aeroportuários. Meu objetivo aqui é outro: fazer o leitor pensar em quanta areia deveria ter nesta ampulheta que, vá lá, pode ser um remédio amargo para um mal recorrente. Com sorte, este texto chegará aos canais decisórios da empresa e, suprema ventura, poderá fazê-los pensar no cliente.
Com sorte, este texto chegará aos canais decisórios da empresa e, suprema ventura, poderá fazê-los pensar no cliente.
Primeiro, façamos a analogia com os campos de futebol. Deixar uma pessoa no estádio e buscá-la são ações muito diferentes. Os torcedores chegam cada um a seu tempo – uns mais cedo, outros em cima do laço. No final, ao contrário, saem todos juntos. Portanto, se cobrássemos a reapresentação do ingresso, imagina as filas e o tempo demandado para cruzar as roletas? Nos voos, centenas de pessoas também pousam ao mesmo tempo. Pensava assim enquanto estava numa fila considerável para a saída do terminal de desembarque e olhava, ao lado, cancelas vazias na pista que deságua o embarque.
Sobre o mágico número de 10 minutos defendido pelas simulações, a agonia foi a seguinte: entrei e apanhei quem chegava a jato (ainda mais que vinha de um bate-e-volta sem bagagem). Performance “de ganhar gincana”. Porém, por causa da fila de automóveis, acionei a cancela já dentro do minuto final. Suponho que um ou dois carros queimaram o tempo, precisando desembarcar e acertar o valor do ticket. Com isso, represaram o fluxo. Em exíguos segundos, sem culpa alguma, eu mesmo faria isso com meus colegas de martírio.
Ora, a sensatez pede duas possíveis providências: o recálculo para 15 ou 20 minutos de isenção já tradicional em shoppings, por exemplo, e a possibilidade de direcionamento para cancelas ociosas quando a fila está grande. Talvez até as duas juntas, né? Afinal, como no futebol, em nosso desfavor, os minutos voam.
Rubem,
Tua amostragem é muito pequena para sugerir providências e a comparação com a saída de campos de futebol não é muito inteligente.
No que diz respeito e desrespeito a placas, há experiências como estas abaixo que comprovam:
* Alguém cospe no chão na entrada do teu condomínio. Você inaugura uma placa com os dizeres “não cuspa aqui”. A partir deste dia as pessoas que passarem por ali sentirão um desejo enorme de cuspir naquele local.
* Você põe um escarrador dez metros antes do portão. O efeito é o mesmo. O desejo de cuspir surgirá dez metros depois.
* Você põe o escarrador dez metros depois do portão, a vontade de cuspir se adiantará.
* É igual para: “não pise na grama”, “não jogue xepas de cigarro”, “não trate os animais”.
Instalar placas de “não estacione”, então, é provocar demais a vontade dos fracos, desorganizados e oprimidos. Por isso a administradora de aeroportos tem de sumir com estas placas.
A lógica por traz de um negócio lucrativo manda sinalizar: “estacione aqui” e “pague aqui”. As pessoas quererão estacionar e pagar. Não por dez minutos, mas por vinte, ou trinta, ou até mais se possível. Os acionistas da Fraport todos irão concordar contigo que dez minutos é pouco.
Os maiores interessados, em resposta aos teus apelos, vão sugerir uma tarifa mínima de, digamos, vinte reais, que ‘contenha’ um tempo máximo de vinte minutos de estacionamento. Isso te agrada?
Se um motorista precisar buscar alguém no aeroporto, tendo garantia de uma vaga, não vai se importar em pagar (depois repassar) o valor. Tende a ser grato se o passageiro entrar no carro em três minutos, pois assim terá economizado dezessete minutos de vida. Se, em contrário, demorar dez minutos, ótimo também. Dá pra ler uma crônica e cogitar que a empresa agiu certo ampliando a área do estacionamento pago.
Mãe é mãe, placa é placa!
Auristela
Então, tá, né? Resta agradecer: Obrigado, Auri
Por uma dessas não vou de carro ao aeroporto. Abraço, Rubem!
Faz bem, Tiago! Muito bem! Obrigado!
Rubem, concordo contigo. Deveria haver uma tolerância maior.
Pois é… Alguém me disse que é por causa dos Ubers. Ok, mas não se deve punir outros desejando regular uns… Obrigado, Greta!