Santo Antônio da Patrulha, Campus da FURG (Universidade Federal do Rio Grande), banheiro masculino, dia 20.05.2023, 11h da manhã.
Após ter deixado a turma da oficina itinerante Santa Sede ocupada na tarefa prática do novíssimo módulo “Aforismos e Títulos” para atender ao aviso da bexiga, identifiquei a placa “masculino” à porta e fui ao banheiro. Se já não bastasse a clareza da placa, dentro do sanitário havia um sinal inequívoco de gênero: a presença de mictórios.
Espaço para digressão: um banheiro público sem mictórios pode ser masculino, feminino ou unisex. Porém, se uma moça entrar no ambiente e encontrar esta específica louça sanitária, a chance de ter entrado por engano (ou de propósito) no banheiro dos homens é de 100%.
Abordo o cotidiano fato por serem estes exatos hora e local motivo de grande alegria. Não, não estava assim tão apertado – se estivesse, a palavra “alegria” daria lugar ao termo “alívio”, e parar diante do mictório seria a causa do prazer. Porém, o contentamento nasceu pela presença de outra coisa: um fraldário na sala reservada ao uso dos homens, algo ainda inusual e já emblemático.
Jovens leitores sem filhos hão de pensar: grande coisa! – irônico termo para restringir o mérito. Maduros leitores com netos hão de pensar: grande coisa! – literal expressão de júbilo. E a diferença de quem, assim como eu, fica feliz com os novos sinais dos tempos, na comparação com aqueles recém chegados à idade adulta, é nosso DNA (data de nascimento antiga).
Em meados do século passado (vou me ater aos anos que vivi), não se esperava dos homens disposição ou habilidade para trocar as fraldas dos filhos. Se isso acontecia, era uma exceção. Ao nascerem meus filhos, muitos de nós, pais, assumiram a partilha das tarefas, derrubando o estigma de o cuidado com bebês ser exclusividade das mães. Mas, fora de casa, dependíamos dos espaços dedicados ou “banheiros da família” para trocar o nenê.
Eis a razão do contentamento: aos poucos, a naturalização dos cuidados parentais compartilhados está ganhando força e transformando a paisagem. Nenhum espaço público ou privado estaria disposto a investir em mobiliário desnecessário. Portanto, é o comportamento que impulsiona a iniciativa, a reboque da locomotiva da história. E tudo mudou em poucos anos, ainda que com atraso.
Quem são os maiores beneficiados? Apressados poderiam pensar nas mulheres. Orgulhosos, nos “novos” homens. A verdade, porém, é serem as crianças a sair ganhando. Tomara que a evolução dos rapazes venha para ficar. E que se possa encontrar mais e mais fraldários nos sanitários masculinos.