Tudo o que se espera com a passagem dos anos é que essa incessante aventura denominada vida nos acrescente experiência. Ou seja, que os fatos, as situações, os aprendizados e as consequências do que fizemos ou deixamos de fazer ofereçam parâmetros capazes de orientar nossos pareceres, decisões e atitudes. Acrescente, claro, não suprima. Felizes são os que alcançam décadas cronológicas sem descartar a criança, o adolescente e o jovem que um dia foram – ter guardado na caixa as ferramentas tão úteis ofertadas pelo modo de ver e sentir o mundo que outrora tiveram.
Uma das vantagens deste verdadeiro remake ofertado a mim pela Agatha é a chance de curtir aquilo que acontece quando voltamos a um filme assistido faz muitos anos: sabedor do enredo inteiro, olhar alguns detalhes que talvez escaparam na primeira vez que vi um bebê apropriar-se do mundo. Ou seja: eu ainda sou o jovem adulto que acompanhou seus irmãos, mas também sou o idoso jovem capaz de ter outro ângulo sobre muitas coisas. Voltar a atenção ao modo como um ser humano se transforma, como lida com o conhecido e, principalmente, como encara o novo é bem ilustrativo. Passeios com Agatha são verdadeiras lições de como deveríamos viajar.
Seus olhos são mestres a ensinar que o inédito deve ser visto com atenção e curiosidade. Ela denota o mesmo encantamento diante de uma copa de árvore a dançar com o vento ou de uma vitrine arduamente planejada para atrair os olhos passantes. Vê graça frente ao cão que estica a guia para vir cheirar nossas canelas ou diante daquele estático hidrante na esquina. Deseja a embalagem vibrante que, por descuido, ficou ao seu alcance na prateleira do supermercado, também a pilha de sacos de lixo que, por descuido algum, deve estar numa medida que permita o encontro com suas mãos (afinal, aos dez meses, o próximo destino será a boca).
Eis o bom viajante: aquele que guardou na sua caixa de ferramentas o olhar de bebê. Quem se mantém atento e curioso para notar que a natureza oferece espetáculos incessantes, que aquilo não programado para nos chamar a atenção é igualmente sedutor e relevante, que o sabor da descoberta poderá até se mostrar um lixo e, ainda assim, será parâmetro útil na vida. Curtir o ímpeto de apreender e de aprender porque tudo o que nos impressiona passará a nos constituir. Quando enfarados pela idade, nem a caminhada primeira pela Times Square – talvez um dos destinos mais fartos em estímulos sensoriais – deixará marcas. No outro extremo, o olhar infantil com certeza vai encantar-se com uma fileira de formigas indiferentes à grandiosidade das margens de um cânion. O que parece melhor?
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Vou pegar uma carona aqui para dizer que ainda estão abertas as inscrições para o livro “Bilhetes de viagem”, uma homenagem a Cecília Meireles na primeira Master Class virtual da Santa Sede. Cronistas experientes e que apreciam o tema podem me pedir a ementa do curso/livro. A edição já está garantida e ainda há poucas vagas até a lotação do grupo.
*Aventuras & Desventuras de um pai bem passado
Bom dia, Rubem! Meu dia amamheceu especialmente bom pela leitura que me ofertastes. Linda e inspiradora! Na caminhada da manhã vou sair por aí observando o mundo com olhos de Agatha. Obrigada e aquele abraço!
Ah, Dora, que delícia contar com você nesta caminhada das linhas! Agatha está aqui ao meu ldo, explorando o mundo! Beijos!
Tomarei os olhinhos astutos de Agatha como empréstimo para a próxima colheita de temas no caminho. Meu lápis vai gostar! Parabéns!
Emprestará com todo prazer, Iris! Beijos
Confesso que somente quando avó consegui entender os passeios dos olhos infantis. Quando mãe, muito jovem, não percebia a grandiosidade do olhar das filhas. É uma experiência e tanto! Bjs pra vcs!😘
Sim, Nara! Esse remake está me ofertando muitos insights (vamos falar em bom português). Um olhar pai/avô para a Agatha! Beijão!