Hoje quero contar o que passou na minha mente e no meu coração quando, semana passada, encontrei o Vicente, primeiro melhor amigo do meu filho. Um encontro afetuoso e alegre, com novidades e nostalgia – bem como são os encontros entre amigos que não se veem há muito tempo. Peraí: eu disse que o Vicente é amigo do Ivan, não meu amigo. O que aconteceu? Bom, lembrei-me na hora da crônica “Eu e os amigos do meu pai*” e notei que algo novo estava acontecendo. Antes, voltemos algumas casas.
Ter filhos é uma experiência transformadora. Ou não, diria Caetano, quando nem a existência deles – na certa a mais forte que alguém possa ter – levar a pessoa para fora de si, na direção do outro. Compreendo que tenham diversas e igualmente meritórias formas de transmitir legado. Porém, nenhuma será tão simultaneamente simples e complexa, suave e intensa, alegre e angustiante como a criação dos nossos filhos.
Lá pelas tantas – estou nessas tantas – o tempo passa e nos encantamos com a novidade de ser pai de filhos adultos. Na mesma medida em que muda o ângulo do olhar (eles crescidos), mudam as trocas (eles autônomos) e muda a proximidade (eles vivendo suas vidas). É quando volto a lembrar do meu velho pai e a viver as questões que ele viveu conosco, seus herdeiros. É uma fase de minguar as ordens e florescer o respeito. Outra safra.
Se antes encontrar os amigos do meu pai era uma forma de tê-lo parte de mim, cruzar com os amigos do meu filho é a outra ponta da mesma corda. E é maravilhoso! Não sei se todos sabem, mas o Ivan é aquele tipo de pessoa de se gostar à primeira vista. Generoso, simpático, atencioso, educado, fiel, luminoso… A verdade disso tudo aparece pelo magnetismo que ele demonstra diante das crianças: elas nunca se enganam. Ser amigo dos amigos do meu filho é um novo privilégio que agora tenho.
Sentir transferido para si o carinho que outra pessoa cultivou é uma vivência esplêndida. Deus me deu essa graça poderosa de pai para filho e de filho para pai. Esforço-me todos os dias – em atos e em pensamentos – para merecer tal bênção. Sou quem sou pelas mãos dos pais e dos filhos que tenho, no amor da família moldada nos bons e nos maus momentos, na fartura e no aperto, nas palavras e no silêncio, com o Ivan e com a Clara. E agora com Vanessa, que me trouxe Agatha. Aliás, tarefa urgente: preciso prestar atenção em seus amiguinhos.
*https://rubempenz.net/2013/08/09/eu-e-os-amigos-do-meu-pai/
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Nesta quarta-feira, 19h30 temos o Sarau Master Class no Bar do Nito (Lucas, 105). “Bilhetes de viagem – Porto Alegre”, nossa obra em homenagem à Cecília Meireles espera por seus futuros leitores num momento de provinha do que vem por aí. O trabalho está lindo, apareça!
Muito bom Rubem! Como sempre! 👏👏👏
Dora, querida, muito obrigado!
E você às voltas com a filha!!!
Beijo
Que poderoso, isto!! A vida dá voltas lindas. 💙
Verdade, Tati! Obrigado, beijos!