Êtarismo

– É verdade que você é tão antigo que viu o homem pisar na lua?

– É…

– Êta! E suas fraldas eram de pano?

– As fraldas eram de pano, presas com joaninha. As mamadeiras, de vidro. Usávamos penico de ágata, as casas tinham galinheiro, os brinquedos eram de flandres, as bonecas de louça… Mas já tinham brinquedos de plástico.

– Êta! E na sua infância a TV era em preto e branco?

– Sim. Funcionava com válvulas. Um tipo de lâmpada atrás do tubo de imagem. Crianças não podiam mexer. Tínhamos três ou quatro canais e poucas casas tinham TV.

– Êta! E seus pais encapavam os cadernos?

– Era o ritual de volta de férias. E enfeitavam as capas com figurinhas de passar. Jamais esquecerei que tive um caderno de matemática com a figura de um burro. Foi um presságio.

– Êta! E quando você começou a trabalhar usava máquina de escrever?

– Verdade. Mas já existiam as “elétricas”, também. Eu usava uma mecânica, mesmo. E precisava de papel carbono para produzir cópias.

– Êta! E no banco, o saldo na conta era consultado numa ficha de papel?

– Bem assim! O caixa abria uma gaveta cheia de fichas e buscava aquela da qual tiraria o dinheiro, se tivesse saldo, claro.

– Êta! A música era em disco?

– LPs de acetato e, depois, de vinil, que não quebravam. Depois vieram as fitas cassete e a gente montava playlists gravando do rádio AM. Depois, FM.

– Êta! Celular?

– Ficção científica.

– Micro-ondas?

– Só fogão. E as casas ainda tinham os a lenha.

– Supermercado?

– Armazém. Com as compras registradas no caderno.

– Êta! Olhando pra você, ninguém diz…

– É? Tá…

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