É muito fácil dar uma googlada e acessar a enorme lista de atividades e talentos daquele que acaba de nos deixar – o grande Claudinho Pereira. Está lá: jornalista, intelectual, radialista, DJ, cineasta, escritor, agitador cultural etc. Ah, e no etc. cabem muitos talentos e atividades. Não é à toa ter construído um nome que é uma verdadeira lenda.
O que nem todos sabem, mas todos os que tiveram um tantinho de intimidade com o Claudinho jamais esquecerão, é ser ele uma das cada vez mais raras personalidades a ter a casa com a porta aberta. Sim, sim: não foram uma nem duas vezes que cheguei em sua casa e a porta estava aberta para além da metáfora a cruzar de fora para dentro. Aberta literalmente. Escancarada.
Uso essa imagem para falar de alguém ao mesmo tempo genial e acessível. Ele e a Preta receberam para visita ou pouso os mais importantes personagens das artes, seja cinema, literatura, música, artes plásticas ou Academia, e todo o povo que começava a trilhar o caminho da cultura. Chegar à sua casa era sempre participar de um encontro ecumênico. Arrisco dizer que até os cães ali são mestres de cerimônia.
Claudinho foi o terceiro padrinho da Santa Sede – seu texto de apresentação está na orelha da Safra 2012. Desde que soube de nossa oficina, tornou-se um entusiasta da causa. Ali, enquanto engatinhávamos, de sua voz gutural e sorriso aberto vieram algumas das mais importantes palavras de incentivo. Só quem experimenta um caminho não ortodoxo sabe o quanto se é frágil no começo – serei para sempre grato.
Nosso último encontro foi recente. Levei para ele de presente o álbum Reverso, meu e do Antonio Xavier. Junto comigo estava a Agatha, acolhida e acarinhada pela Preta e pelo Claudinho com status de neta – correram a buscar objetos que servissem de brinquedo. Ele escutou a história de um disco que levou vinte anos para ser concluído com uma naturalidade espantosa: por ter ele mesmo uma mente repleta de projetos, bem sabia que as coisas acontecem a seu tempo.
Termino a crônica, publico e parto para dar um abraço na família na despedida deste grande amigo. Diferentemente das almas mesquinhas, seu trajeto será iluminado por centenas de canhões de luz. Generosidade à altura de sua passagem por este plano. Obrigado, destino, por me fazer contemporâneo de Claudinho Pereira.
ORELHA SAFRA 2012
Pérola é reação a um corpo estranho dentro da ostra – envolve o invasor e cria uma preciosidade. Dizia Rubem Alves: “Ostra Feliz não faz pérolas”.
Rubem Penz as cultiva nos bares da vida. Como pérola, crônica precisa ser instigada, lapidada e sofrida. É texto que, num só tempo, tem beleza poética, brilho e atualidade. Sempre um texto de autor. E precisa fazer “amizade” com o leitor, conquistar confiança. Às vezes, o texto surge num repente, inesperado, e vira história.
Para reunir muitas pérolas, nosso professor leva aos bares uma ideia brilhante: pessoas no entorno, Combo literário formando talentos. Escrever é viciante – principalmente crônicas. Juntos, relatam o cotidiano. Aproveitam a Santa Sede para cultivar preciosidades literárias. Afinal, as pérolas são crônicas das ostras. E várias formam um colar – este livro.
Rubem Penz, como excelente escritor e músico, sabe que crônicas, pérolas e jazz têm algo em comum: a improvisação em cima do mesmo tema e, para isso, o importante é que a nossa emoção envolva.
CLAUDINHO PEREIRA