O cronista escondido em cada um de nós

Você já viu alguém conversando sozinho? Assim, do nada? Algo que pode estar acontecendo enquanto caminha, dirige o automóvel, perde-se na janela do ônibus, prepara uma refeição, limpa a casa, passeia com o cachorro? Alguém a fazer o que se costumava chamar de pensar alto? Pois então: é o cronista que existe escondido em cada um de nós buscando as palavras certas.

De outra sorte, já viu alguém tecendo teses surpreendentes? De súbito? Algo que pode acontecer no almoço de domingo em família, com amigos na mesa do bar, na arquibancada do futebol, na reunião de mães, pais e avós defronte à creche, no intervalo do café, n’alguma fila tediosa? Repito: é o cronista que existe escondido em cada um de nós buscando interlocução.

Ou nada disso: apenas alguém com sonhos interessantíssimos a nos contar? De surpresa? Algo que pode nos encantar na sala de espera do médico, no banco do trem, na cadeira ao lado do cabeleireiro, na mesa vizinha do restaurante de bufê a quilo, na fila de trás na plateia antes do espetáculo? É, minha gente: ali está o cronista que existe escondido em cada um de nós semeando a imaginação coletiva.

Como eu sei? Uma época, mais de vinte anos atrás, existia um cronista escondido em mim. Eu intuía sua presença a cada instante da rotina, mas não dava ouvidos ao palpite interno. Até o dia em que escrevi uma crônica. Mais: inscrevi a crônica num concurso e, do nada — súbita e surpreendentemente — tirei primeiro lugar. Foi como acordar para um talento moldado por muito tempo pela minha própria histótia de leituras, audições e comentários sobre a vida.

É quando você diz: foi um acaso. E eu respondo: também pensava assim. Até escutar o acontecido com minha nova amiga Geneviève, lá de Caxias do Sul. Com ela foi o mesmo! (Inclusive com a coincidência de ser premiada no certame seguinte.) Primeira crônica, prêmio literário. Ela contava com entusiasmo sua história, e eu estava como diante de um espelho. Nós dois fizemos, depois, o que se faz num momento desses: nunca mais deixamos o cronista que existe em nós escondido.

Agora, se você já protagonizou qualquer cena acima descrita, venha revelar na Santa Sede o cronista que está escondido aí dentro — só esperando a chance de chegar ao papel. E, se acha não existir um cronista aí oculto, experimente participar de um de nossos encontros. Periga o tal escondido aparecer para todos. Inclusive para você.

6 comentários em “O cronista escondido em cada um de nós”

  1. Marina Barros

    Primeiro concurso e “destaque” (que vem logo depois dos premiados) de uma crônica de “Mosaico”, na Santa Sede. Além disso, outras publicações andam por aí, de boca em boca, ou seriam olhos e ouvidos? Afinal, a crônica é de sentidos. Adoro ler em público, em saraus e isso é prêmio também, não?

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