Bastou uma distração, uma breve distração, e aquele termômetro eletrônico que tantos bons serviços prestou à família faleceu por motivo insondável. A responsável pode ter sido a Agatha, a quem o instrumento de medição foi franqueado vez que outra para manuseios e bocaseios? Pode. Uma alternativa é seu fim ter chegado por motivo de idade: fora adquirido na chegada do mano mais velho, 28 anos atrás.
De qualquer forma, a compra de novo termômetro se fez necessária e, nas opções dispostas na farmácia, todas parecendo legítimas, optamos por um modelo G-TECH. Porém, não havia na embalagem um aviso necessário: este produto se destina a pais jovens. O antecessor dispensaria tal alerta – tanto que eu o utilizava com tranquilidade apesar do avanço do tempo. Por falar nele, no tempo, foi ele quem cobrou a conta: quem disse que eu vejo com facilidade os números no dial? Quem disse que eu escuto minimamente o aviso sonoro do final da medição?
Certo: tenho óculos para a leitura, resolvendo parcialmente o primeiro problema. Digo parcialmente, porque a febre chega em momentos variados. Um deles é de madrugada e não preciso ter óculos de leitura por perto à noite. Além do mais, ninguém quer acender uma luz forte para agitar ainda mais o bebê e, na tênue iluminação que o momento pede, nem com óculos de leitura alcanço o intento inicial: saber se havia ligado ou não o termômetro.
Óculos na vista e termômetro quase encostado na lâmpada (vejo que está ligado), tudo resolvido? Nada… O aviso sonoro é absolutamente inaudível. Sofro com a redução auditiva há muitos tempo por herança genética. Vinte anos, por baixo. Minha sorte é ela ser particularmente severa nas frequências muito altas. No dia a dia o impacto é pouco sentido, mas, para um piiii, um triiim, ou um ding agudíssimos, ela não funciona. Sabe zero? Zero som.
Certo, outra vez: dou um tempo, encosto o termômetro outra vez na lâmpada, espremo a vista ao limite e resolvo parcialmente o segundo problema. Digo parcialmente, porque posso estar olhando uma medição incompleta ou, o horror, ele já se desligou. Para acessar a medição que está na memória é preciso agilidade: são dois a três segundos – se bater o pavor, perde-se. E quem disse que medir a febre de uma criança doente é atividade tranquila e prazerosa, ótima de se repetir?
Bem-vindos ao novo drama de ser um pai bem passado: a cada bochecha mais rosada, olhar vitrificado ou testa quente, vejo-me diante do terrível enigma do termômetro. E aquele de mercúrio, analógico e seguro? Sim, temos. Está em algum lugar no armário da farmacinha à espera de minha rendição.
A&DPBP = Aventuras e Desventuras de um Pai Bem Passado
Olá Rubem! Sua crônica me fez rir de chorar, trazendo fortes lembranças da minha experiência, igualmente frustrante, com os termômetros digitais. Desisti de tentar. Cada um pior que o outro. Viva o analógico de mercúrio!
Ah, Ana… Para mim o pior é o som que não escuto MESMO. Complicado demais essa coisa de surdez.
Obrigado, abraços!
Eu também não escuto, mas a filha com quase 40 (anos, não graus), resolve por si mesma
Boa, João Luiz: daqui a pouco a Agatha escuta e me avisa!
Abração!