Sobre paixão, pense numa metáfora poderosa, numa imagem capaz de seduzir dos poetas aos bardos, romancistas e, no fim do fio, aos leigos incumbidos da tarefa de compor um cartão que acompanhará o singelo buquê.
Pensou? Mesmo contra meus princípios de vida, eu poderia apostar que tal imagem se refere a um dos três elementos mais potentes que habitam nossa consciência: a água, o ar ou o fogo. Batata, como diria Nelson Rodrigues (nome que será muito pronunciado neste ano na Santa Sede, aguardem). A originalidade estará na forma, é claro. Também a competência.
No meu caso particular, a água domina o cenário. E, pelo fato de o amor romântico ter uma dimensão grandiosa em minha vida, nada mais apropriado do que lançar mão da maior água possível – o mar. Em diversas ocasiões, seja em prosa ou em verso, o mar serviu de caminho para explicar o que se passa no peito dos apaixonados.
Exemplo? Um tema composto em parceria com Dudu Penz no disco Donaflor, de Anne Florence Schneider (Suisa, Zurique 2011) denominado “Em frente ao mar”. A melodia já chegou com título, o que às vezes ajuda o letrista, às vezes dificulta. Aqui, o primeiro caso. Diz ele na primeira estrofe, sobre o amor que finda:
Sim, foi no começo de manhã em frente ao mar / Foi só a noite amenizar / Foi só te ver / Para entender / Era preciso libertar / O coração que insistia acalentar / Um desamor para esquecer / Deixar morrer / Ele que antes, já distante / Recolheu maré vazante do destino / Inconsciente desatino / Sofrimento e solidão (e solidão)
Depois, na segunda estrofe, a maré muda:
Sim, foi só a noite diluir-se em frente ao mar / Foi só o dia começar / Foi só te ver / Para entender / Quanto se pode iluminar / E quando a sombra de outra face der lugar / Um novo amor virá romper / E devo crer / Nele que hoje está presente / Maré cheia, fé crescente no futuro que ontem, juro / Não sonhei ver renascer assim tão bom / O bem querer, revelação / Vem de você o dia a clarear
No refrão: Raiou / Nós dois em frente ao mar / Você iluminou / Raiou / Nós dois em frente ao mar / A noite terminou
E não é que o mais recente trabalho musical concluído, “Reverso”, tem nas embarcações da música título o caminho do amor? Fechando o disco, “Paramar” é outro tema unindo o mar e amar para além do jogo de palavras e, para nossa alegria (minha e do parceiro Antonio Xavier) nos indicou para a categoria Melhor Compositor e Gisele De Santi como Melhor Intérprete. O disco também é finalista como Melhor Álbum ou EP do Ano, completando o quadro.
Não cabe colocar a outra letra aqui. Até é bom que assim seja: corre nos canais de streaming e escuta hoje mesmo. Na próxima quinta teremos a noite do prêmio. Vale sua torcida!
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O tema “Em frente ao mar” pode ser encontrado no Youtube: https://youtu.be/KBCyv4cbPtc?si=m46f-7UuJgKMUeeD
“Paramar” também está lá no Youtube e, no Spotify, está aqui https://open.spotify.com/wrapped/share/share-0c7493b09fd14a6eba2187a44d811c85?si=_LybkBhHTAWrOsUumHfH0g&track-id=3EiaugFSjyUuAmIpVyZdgQ&pi=OgB-SZYdQruIt
Que lindeza! Delicadeza, poesia e mar. Parabéns! Adorável!
Ah, vindo de uma carioca, povo cujo mar é praticamente parte constituinte, é uma bênção! Beijão Soraya!
Ahhh…eu quero aprender sempre mais com você! Seu texto é de muita sensibilidade e sutilezas! Belo! Parabéns! Mas quero fazer outro curso com você no ano quem está chegando, ok?
Bom dia, Marta! Muito, muito obrigado! Nos encontraremos em 2025 com certeza! Abração
Parabéns, Rubem! Sempre é um prazer ler os seus textos.
Muito obrigado, Zuleica! Bem-vinda, sempre! Boas Festas!