Patos, galinhas, peixes e panelas (A&DPBP*)

Ele chegou cedo e a Vanessa não suporta pacotes fechados. E a filha é igual à mãe. Ou seja, a Agatha abriu o primeiro presente para seu aniversário de dois aninhos alguns dias antes da data. Por mim, teríamos esperado. Duas contra um, voto vencido. Não é o tema da crônica, mas aproveito a viagem: estou pronto para sempre ser derrotado na democracia aqui de casa…

Bom, agora que abrimos, abro para vocês: coisa mais linda desse mundo! Isabel, a prima mais velha (em parceria com a tia Tina), encarregou o Nil de trazer de Barcelona para a caçulíssima brinquedos suecos (era um conjunto, ele trouxe dois). Como é sabido que Agatha adora brincar de panelinha, vieram alimentos de tecido da marca Ikea – dizem ser popularíssimos em toda Europa. Tem abacaxi, tomate, beringela, alho, pimentão, chuchu, aipo, cenoura, alface… Tem macarrão, queijo, pão, linguiça e, vejam só, peixe. Um linguado defumado, pelo jeitão.

Aí que a sereia torceu o rabo: peixe? Imediatamente saiu do conjunto dos alimentos e foi para a turma dos bichos, outra preferência em equilíbrio com a gastronomia no momento de brincar. Não adiantava incluirmos o peixe na cesta básica – seu lugar passou a ser junto à capivara, tucano, leão, macaco, bicho preguiça, peixe-boi, urso panda, pato, tamanduá… Em algum momento, não sei quando, ela descobrirá a verdade sobre uma de suas preferências gastronômicas: carne.

Uma dica já está na música que mais canto para Agatha: O pato, de Vinicius de Moraes. Se você não lembra, o pato pateta, depois de ter pintado o caneco, surrado a galinha, batido no marreco; pulado do poleiro no pé do cavalo, levado um coice e criado um galo; comido um pedaço de jenipapo e ficado engasgado, com dor no papo; depois de ter caído no poço, quebrado a tigela e, enfim, tendo feito tantas (o moço), foi parar na panela – e ela canta, feliz, panela!

Este velho pai não pesca. Também não tem fazenda, granja ou sítio. Ao vivo, ela só viu animais do campo na Quinta da Estância – cavalo, porco, pato, boi, pavão. Por perto, cães e gatos. Em breve, um aquário (ó, Ivan, lá vou eu voltar 25 anos). Por isso, ainda vai demorar para juntar as ideias. A coxa de frango no conjunto de panelinhas (que ela adora brincar de comer) em nada se parece com a Galinha Pintadinha.

Mundo muito diferente do meu, que pegava a penosa escolhida pela dona Ercília e presenciava a cozinheira desnucar a pobre sem cerimônia. Uma brutalidade? Pode ser. Mas elas ao menos corriam, coisa que a cenoura, o morango, a batata, vegetal algum é capaz de fazer. A passividade é tanta que, ao contrário do peixe, sequer conseguem sensibilizar a Agatha, que morde de brinquedo e faz hummm! Que venham as cenas dos próximos cardápios.

*A&DPBP são as Aventuras & Desventuras de um Pai Bem Passado

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