Rufar dos Tambores 526
Mau gosto? Lamento
Rubem Penz
Meu amor, tem dó
Pixinguinha
Minha primeira reação ao ditado popular “gosto não se discute, se lamenta” foi a de duvidar. Pensei: gosto é o que mais se discute, pois cada um tem o seu para defender. Porém, fui alertado para o fato de que eu mesmo, quando defrontado com alguém que não gostava de Vinícius de Moraes, não discuti. Apenas lamentei…
Uma vez, Chico Buarque disse algo que reproduzo de memória. Perguntado sobre o que costumava de escutar de novo na música, respondeu: nada. No máximo, coisas novas de autores e intérpretes antigos. Explicou que formamos o gosto musical na infância e juventude, aplicando esses valores como parâmetro para o resto da vida. Para ele, o novo não era, necessariamente, bom ou ruim. Apenas não era do seu gosto (ah, isso explica tantas brigas entre pais e filhos…).
Depois disso, vi reforçado o quanto pais, amigos e educadores são importantes em nossa vida. Afinal, é com eles que, durante a infância e juventude, tomamos contato com as informações que construirão nossas preferências. Hoje, adultos, estamos nós com a responsabilidade de formar as novas gerações. Até o sucesso afetivo deles pode estar em nossas mãos: fatalmente, quando se encontrarem com aquela companhia desejada, entre um beijo e outro, irão comparar o que gostam. E aí, se o trabalho foi mal feito, poderá ser um desastre.
Mas, como fazer? Impor valores goela abaixo? Trancar pimpolhos numa sala com Beethoven a todo volume? Empunhar Machado de Assis, domar-lhes o paladar? Infligir jornadas intermináveis de cinema francês? Com certeza, esse é o caminho para a derrota de todas as boas intenções. Aquilo que nos forçam a engolir, cedo ou tarde, regurgitamos.
A solução, desconfio, seja ensinar pelo exemplo. Primeiro, demonstrar que conhecer é mais importante do que gostar, cultivando a curiosidade. A seguir, apresentar música, literatura, artes plásticas e culinária – de diversas culturas e épocas –, com o cuidado de fazê-lo de forma adequada à idade. Oferecer o que gostamos sem julgar com demasiada severidade o que não gostamos – exceção para o que consideremos lixo.
Por fim, nunca reforçar o que domina o mercado, já que a mídia se encarrega disso com grande competência e muito dinheiro. Ao ofertarmos produtos culturais alheios ao imediatismo, à modinha, porém com valor consagrado pela crítica, conseguiremos um mínimo de contraponto para a formulação de seus próprios conceitos. Isso, claro, não significa criar seres herméticos ao padrão vigente.
Fácil? Não. Mesmo agindo dessa forma, há o risco de fracassarmos. Neste caso, o consolo será formar pessoas com um mau gosto muito bem estruturado, com base em padrões elevados de escolha. Ainda assim, prefiro crer na lógica mais otimista: em perpetuar padrões nos quais acredito para que a criação e a renovação cultural aconteçam melhor embasadas, respeitando e valendo-se da história da arte e dos costumes. Por exemplo, prevenir o mau gosto com Lamento – do Pixinguinha.