Coluna do Jornal Metro Porto Alegre em 24.09.2013
Habitamos o mesmo corpo, eu e ele. Porém, ele tem vontade própria, por vezes desobedecendo e me deixando em situações delicadas. Algo como seguir uma lógica muito mais ligada aos impulsos afetivos, diferente da dita lógica cerebral. Convencido, ele pensa que pode mais do que qualquer outra parte do corpo. Reconheço minha dívida para com ele, pois vivem me elogiando por sua causa, o que faz dele determinante em minhas relações… Mas, como parte do meu ser, ele deveria me deixar alguns créditos.
Dizem que ele é grande. Não sei. Aliás, parece de mau gosto ficar comparando, quantificando, medindo. Pequeno, sei que não é, mas devem existir maiores em profusão por aí, sem precisar procurar muito. Há quem diga que os gigantes de verdade são mais moles, não endurecendo jamais. No meu caso, talvez essa falsa impressão de grandeza seja pelo restante do corpo ser pouco avantajado – nada como pontos de referência favoráveis! Devo admitir que o meu cresce bastante nas ditas horas “H”. Porém, nem aí ele se diferencia dos demais, uma vez que é isso que se espera deles todos.
Com ele parecendo assim tão bom, conquisto, no mínimo, a simpatia de muitas mulheres. É voz corrente que elas preferem os que o têm enorme. Neste sentido, é preciso ficar atento ao fato de que elas (as mulheres) são apenas mais suscetíveis ao seu porte. Isso porque, em regra, os homens também admiram os que ostentam tamanha generosidade. Apesar de, temendo a comparação, não admitirem jamais. Todas as minhas namoradas pela vida afora viram nele um diferencial de peso, por assim dizer. O que não significa que ele apenas as tocou.
Acho que se ele prestasse um pouco de atenção no restante do corpo baixaria um tanto a bolinha. Sou um homem interessante por plurais motivos, pois um exemplar dele todos nós temos, mesmo que de diferentes portes. Então, suponho que uma mulher me escolhe um pouco por causa da cor dos meus olhos e cabelos; outro tanto por opiniões e valores capazes de combinar com os dela; por minha força ou delicadeza; em razão de minhas modestas qualidades e apesar dos meus numerosos defeitos.
Quanto a ele? Ora, ele não é tão grande coisa assim, bem como eu também não sou. Fazemos o que podemos nessa vida e habitamos o mesmo corpo. Eu e ele – meu coração.
PS.: Estamos na Semana do Coração, iniciativa da Sociedade de Cardiologia do RS. Trate bem do seu. Nada de esperar ele falhar para dizer ao médico: “Dr., isso nunca aconteceu antes…”.