Rubem Penz
Muitos anos atrás o Brasil se candidatou para ser a sede da Copa do Mundo de Futebol Fifa 2014. Preparou uma apresentação esmerada, vendeu-se com competência e, como era esperado, venceu. Nem poderia ser diferente: diante de todo planeta éramos uma nação pujante, em ascensão, firme a ponto de menosprezar qualquer cenário de crise. No país do futebol, teríamos a Copa das Copas. Finalmente o futebol voltaria para casa. Só alegria.
Só alegria? Não… Desde sempre, ainda que em um muxoxo tímido comparado ao otimismo reinante, vozes sensatas alertavam: há outras prioridades a serem contempladas, todos sabemos como planos como estes começam e como terminam, vamos dar vexame. Aos poucos, como houvera de ser, o país investiu de modo perdulário em uma festa enquanto os destinos justos seriam a infraestrutura, a educação, a saúde e a segurança dos cidadãos. Mas nem isso foi unanimidade, pois a exposição que eventos desta grandeza proporcionam, mais o afluxo de turistas, viriam compensar as despesas. Segundo alguns, com vantagem concretas. Segundo outros, com ganhos indiretos.
Sem surpresa alguma, tudo foi ficando para a última hora. Na urgência, as despesas suplantam o programado. Aquilo que foi chamado de “Legado da Copa” não correspondeu às esperanças e frustrou até mesmo os comprometidos. Nossas mazelas ombrearam com nossas virtudes disputando a atenção da imprensa nacional e estrangeira. Uma onda de protestos eclodiu tardiamente – mania nacional de querer deter a água quando ela já alcançou a cachoeira. Jogaram argumentos no ventilador e sobrou para todos: governo, oposição, Fifa, empresários, manifestantes… Os contra a Copa acusaram os a favor de inconsequentes e vice versa. Como diz o ditado, no lar que falta pão, todos gritam e ninguém tem razão.
Foi quando a bola rolou nos gramados e, surpresa: nada deu tão errado quanto apregoavam os arautos da tragédia, nada deu tão certo quanto defendiam os otimistas. As grandes capitais, que já convivem com o caos, conheceram apenas uma nova modalidade: caos padrão Fifa. Garçons, motoristas de taxi, vendedores, etc., mostraram que, ao contrário de países desenvolvidos, não dominamos outros idiomas. Porém, com boa vontade, todos são atendidos e saem satisfeitos. Sentem-se brasileiros! Somos simpáticos, acolhedores, nossos bosques têm mais vida e nossa vida mais amores. Isso é derrota ou vitória? Finda a Copa, ficará o inconveniente e eterno sabor de empate – o conformismo, o não tem jeito, somos assim. Mas, o que significam preocupações filosóficas como essa diante do resultado de Brasil X Camarões?
Crônica publicada no Metro Jornal em 24.06.14