Rubem Penz
Hoje quero me dirigir aos mais velhos (como eu) para ser lido, especialmente, pelos mais novos. É que o tempo faz coisas estranhas com a gente, e contemplá-lo, sorver o tempo, traz tanto assombro quanto responsabilidade. Jovens, vocês ainda verão a força disso.
Começo com algo leve: primeiro, vivi o instante em que os ídolos no futebol tinham a idade do meu pai. Depois, a minha idade. A seguir, a idade do primo caçula e, hoje, são da geração dos meus filhos. Os técnicos, bem como os dirigentes, foram contemporâneos do meu avô, passaram pela faixa etária do meu pai e, neste ponto, o andar de cima dos clubes já conta com o pessoal da minha turma em sua maioria, cinco anos para cá, cinco para lá.
A mesma lógica vale para todas as áreas. A geração nascida entre os anos 1960 e 70 está neste momento no comando das indústrias, das aeronaves, das cátedras; está chefiando salas de cirurgias, as redações de jornal, as autarquias e fundações; dita a moda, cria tendências, compõe os roteiros e concorre aos prêmios. Já são atores maduros, compositores clássicos, escritores consagrados, empreendedores de sucesso, oficiais nos altos escalões corporativos. E isso pesa. É justo que pese.
Vejam o caso do TRF4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), responsável pelos casos da Lava-Jato: para orgulho e espanto, sua 8ª Turma é a “minha” turma! Sim, os três desembargadores destinados a compor uma das mais decisivas páginas da história recente são da minha geração. Já vem passando por seus (nossos) olhos, consciências e lucidez uma série de decisões as quais impactam o futuro do Brasil – a rara oportunidade de frear um sistema histórico, viciado e impune de administrar a coisa pública e a iniciativa privada.
Um exemplo? Essa (minha) turma era adolescente ou jovem durante as Diretas Já. Eu e o João Pedro, o Leandro e o Victor Luiz – espero perdoarem tanta intimidade – vimos as mesmas coisas acontecerem. Creio termos em nossas retinas os méritos e deméritos de cada um dos governos civis eleitos, contrariando os discípulos de Maniqueu que insistem em prismas distorcidos. E somos livres para julgar porque a liberdade foi conquistada.
Minha turma, caros jovens, mais do que nunca está na história – e resta confiança no que vejo. Ponho fé em nosso legado, creio nessa geração, renovo as esperanças. Vamos orgulhar antepassados e descendentes – tocou a nós este inevitável fardo. Hei, turma: coube-nos, também, um histórico privilégio.
Crônica publicada no Metro Jornal em 18.07.2017