A Copa dos uniformes coladinhos

Rubem Penz

Creio que metade do público feminino presente aos estádios nos anos 1970 estava lá menos pelo gol, mais pelas coxas expostas por exíguos calções. Havia a lenda de que as pernas do goleiro Leão seriam capazes de dissolver até o mais sólido casamento. Outros quadríceps famosos eram o Éder e, já nos estertores da justa tendência, o ponteiro celebridade Renato Portaluppi. Nas décadas seguintes, paulatinamente, os uniformes do futebol foram deixando cada vez menos a tecido humano exposto. Quando da virada do século 20, tornaram-se verdadeiras bermudas de surfistas. Se a ideia era crescer a área de merchandising, pode ter sido, óbvio, um tiro n’água. Paisagem descontada, é preciso dizer que a providência fez crescer o conforto do atleta – e o alívio dos maridos.

Mas não foram apenas os “shorts” que cresceram. As camisetas, outrora unidas aos contornos corporais, tornaram-se verdadeiros pijamas. Azar dos jogadores recém subidos das categorias de base e sem tempo para amadurecer o porte físico… Se alguém tivesse entrado em coma no ano de 1979, acordasse em 2009 e visse os atletas perfilados para o hino, pensaria que o roupeiro tinha buscado uniformes dois números acima. São mangas que descem até o cotovelo, tórax boiando e fralda grande. Exceção, talvez, para o Walter. Mas aí também é mais difícil deixar a peça larga… Problema: num esporte de contato, os puxões na roupa se tornaram mais do que frequentes – viraram estratégia de imposição física.

O que tenho visto na Copa 2014 é uma espécie de tendência retrô, ao menos da cintura para cima, com as camisetas “slim fit”. Os tecidos de alta tecnologia passaram a compor todas as modalidades e, mesmo sendo o futebol um esporte de enorme preguiça para mudanças, as empresas de uniformes começam a adotá-los. Ao ajustar as formas, revelam para as mulheres um pouco mais do que outrora, e um pouco menos do que o proibido despir-se nas comemorações ao estilo strip-tease. Bom, há quem prefira tomar um cartão amarelo a deixar as fãs desassistidas… De toda sorte, uma camiseta coladinha oferece bem mais do que paisagem: conforto térmico e prevenção ao “efeito quimono”, isto é, o agarrar sem que o árbitro veja.

Para mim, tanto melhor. Antes que pensem ter eu interesse em peitorais masculinos, os motivos são bem outros. Finalmente poderei comprar uma camiseta do Internacional sem parecer magro demais, perdido no excesso de largura dos uniformes. Azar de quem precisa perder uns quilinhos. Ou melhor: sorte! Quem sabe isso sirva de estímulo para afinar forma e saúde. Agora, se os calções ajustarem outra vez, será minha vez de agir e tratar de engrossar as pernas.

Coluna do Metro Jornal em 01.07.14

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