Finalizado o vestibular

Crônica publicada no Metro Jornal em 21.01.2014

Finalizado o vestibular, os ânimos se acalmam, a taquicardia dos pais reduz, a tensão dos candidatos se aplaca. O trânsito na cidade serena quando finalizado o vestibular. Os despertadores – mais de um em cada casa, por garantia – que nos quatro dias anteciparam as manhãs soando como clarins em toques marciais, podem retornar à rotina de civil. Aliás, finalizado este vestibular, houve quem pedisse para não ser acordado antes da hora do almoço.

Finalizado o vestibular, ou mesmo antes, alguns já lamentavam a má sorte: o engarrafamento que impediu a chegada no tempo certo, o branco depois de tanto estudo, aquela questão óbvia que, de tão óbvia, muitos acabaram errando. A consciência da pouca preparação repousa ali, sobre os ombros do candidato, logo depois de finalizado o vestibular. Isso quando não migra para o silencioso olhar dos pais a dizer: viu?

Finalizado o vestibular, e antes da divulgação da lista dos aprovados, os candidatos se dividem em três grupos: os que acham que deu, os que acham que não deu e os que sabem que não – só estes têm paz. Se caísse numa prova de química a natureza da dúvida, eu diria: dúvida é um ácido. Dúvida corrói. Mais aos pessimistas (estranhamente, os otimistas conseguem converter a acidez da dúvida em esperança). Finalizado o vestibular, e antes da divulgação do resultado, o vestibulando aqui de casa não tocava no assunto…

Finalizado o vestibular, chega o momento do listão. Uma espécie de entrega de Oscar com dezenas de candidatos para cada estatueta. É promessa de lágrimas de felicidade ou tristeza. Nem todos os que foram bem receberão boa notícia: outro foi melhor. Precisa bons anos para os estudantes entenderem o que passa no coração dos pais quando da notícia de que o filho (a filha) passou. Passa um filme na nossa cabeça – desde as fraldas até aquela criatura que já nem mais criança é.

Finalizado o vestibular, é chegado o tempo de reconstrução para a maioria dos candidatos. Momento de arregimentar forças para seguir fortalecido, consciente de que há muito mérito em derrotas dignas. Finalizado o vestibular, descobre-se que apenas o vestibular chegou ao fim e a vida, continua. O carinho continua, a confiança continua, o apoio não cessa. E nossa vida é um prêmio tão maior do que um vestibular que o simples ato de respirar fundo pode recolocar os reais valores no lugar.

Por fim, finalizado o vestibular, queria deixar aqui registrado que a intervenção do “anjo sobre duas rodas”, a qual descrevi faz duas semanas, foi recompensada. Meu filho, sou todo orgulho! Nosso anjo, sou todo gratidão!

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