Dá-me um Cornetto!

Número 425
Rubem Penz
Diga-me quais são teus comerciais favoritos e eu te direi quem és. Não há escapatória: somos apaixonadamente saudosistas e, dos tantos afetos acumulados, amamos loucamente os comerciais que passaram em nossa juventude. Tanto quanto as músicas preferidas, as novelas, as escalações do time do coração. No mesmo nível dos livros que fizeram nossa cabeça, dos filmes, dos bares, da turma de amigos. Num estalar de dedos o tempo retorna e soltamos jingles e diálogos inteiros de cor.
Pude testar isso faz alguns dias. Sem nenhum planejamento, apenas buscando em grupo ideias para a atividade escolar da sobrinha mais velha, lancei a possibilidade de eles resgatarem alguns clássicos da propaganda nacional. Acho que o primeiro filme de que lembrei foi aquele do Fernandinho, o das camisas US Top. “O mundo trata melhor quem se veste bem”, dizia o locutor. Duvido que alguém com mais de quarenta anos tenha esquecido a ascensão meteórica do Fernando dentro da empresa, em meros 30 segundos. Uma pérola!
Detonei o estopim para explodirem diversos filmes em nossas mentes. O clássico estrelado pelo Carlos Moreno vendendo Bombrill, por exemplo. De tão bom, gerou uma série maior do que todos os Rambos, Indiana Jones, Guerra nas Estrelas e Duros de matar juntos! Foi tão explorado, a ponto de acompanharmos a escalada da calvície do ator e sua entrada no Guinness Book. Outra série lembrada, igualmente simples na feitura e genial na criação, foi a da Brastemp. Nossa memória, quem diria, ainda é uma Brastemp!
Aí passamos aos jingles. Ponto para a Varig: continua nos emocionando com sua estrela brasileira no céu azul, iluminando de norte a sul. Todos os conceitos apresentados no filme ganhavam força com a melodia doce e enternecedora. Voar naquela companhia era o mesmo que ser ninado pela mamãe. Em tempos de pós-apagão, perdemos o glamour dos aeroportos, o conforto, o carinho com os passageiros… E que tal um Cornetto para refrescar? Quem diria que, tão jovens, sairíamos entoando uma melodia operística cada vez que comprássemos um simples sorvete. Mas, na verdade, era impossível evitar a versão parodiada de O sole mio, clássico do cancioneiro italiano. Que delícia!
Como isso continuou é fácil de adivinhar: um comercial levou a outro e a outro e a outro e a outro. Num instante, meus filhos e minha sobrinha já não estavam tão interessados. Nem minha mãe, cuja nostalgia afetiva recai nos reclames do rádio, com certeza. Mas nós, quarentões, passamos pelos Cobertores Parayba, pelo primeiro sutiã, pelo Star Sax (Kraftwerk!), pelo comercial de fim de ano da Rede Globo e muito, muito mais.
Assim como invejo as pessoas que viveram o melhor momento da música brasileira durante sua mocidade (o que eram os Festivais dos anos 60?), tenho certeza de que serei invejado por ter assistido a melhor geração de publicitários do Brasil no apogeu criativo. Sem mais delongas: Corneeeeeeeeeetto mio!


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