Pai: que negócio é esse?

Número 434
Rubem Penz
Pelo menos até aprovarem a clonagem humana, está prejudicada a ideia de firma individual – a forma legal que dispensa sócio para o empreendimento de uma companhia limitada. E onde se lê sócio, compreenda-se pai. Mesmo que muitas mulheres torçam o nariz, a boa norma só admite uma criança humana a partir de dois gametas com personalidade biológica próprias. Então, entre os homens disponíveis no mercado, é preciso escolher o mais adequado para tal fim.
Filho é, sim, um empreendimento. Aliás, uma iniciativa de longo, longuíssimo prazo. Contempla um enorme risco, pois nem todo o capital anímico do mundo garante seu sucesso ou do filho. Se bem que há avaliações muito variadas para o termo sucesso: ele pode ser medido em felicidade, em saúde, bondade, em riqueza, inteligência, honestidade, paz… Ser pai é um negócio para lá de complicado. E fica cada vez mais estranho na medida em que a sociedade contempla novas estruturas, diferentes daquelas do tipo empresa familiar.
Há os pais no estilo sócio minoritário. O rapaz entra com 1% e olhe lá. No fim das contas, está ali apenas para a fecundação e para constar no registro em cartório. Se o filho tiver competência para ser milionário, pode apostar que, cedo ou tarde, o papai cobrará algum dividendo. Para o caso de a criança dar prejuízos na praça, o pai minoritário alegará que jamais gerenciou a coisa e, assim, não tem qualquer culpa. Porém, o que mais ocorre é a vida simples, cotidiana. Desta, o sócio minoritário auferirá em carinho a contrapartida na ínfima participação.
Vivemos uma época de pais no estilo associado. Neste caso, o filho não é biológico, origina-se de capital externo. Mesmo quando o enteado lhe chama de papai, sabe que é fruto de um ex-sócio. Pode ter sido um sócio minoritário ou, bem ao contrário, ter entrado com valores elevados de expectativa no momento da fundação, quero dizer, fecundação. Mas, por motivos variados, acabou em outro ramo. Quando vai tudo bem, a criança sai ganhando: dois pais ao invés de um. Em outros casos, pode surgir uma certa concorrência, por vezes desleal.
Há pais majoritários. Ora por viuvez, ora por terem ganhado a guarda na separação, ora por pura vocação em ocupar todos os espaços dentro de casa, os majoritários são por vezes confundidos com mães. Isso não quer dizer que sejam afeminados. Na verdade, são masculinamente maternais. No fundo, no fundo, gostariam mesmo é de uma sociedade equânime com a parceira. Ou com o parceiro, uma vez que cresce a participação homossexual na composição societária. Agora de papel passado!
Existem bancos de esperma para as mulheres optarem pela sociedade anônima. Ali, investidores a fundo perdido colocam seu capital disponível, julgando ter riqueza capaz de fomentar novos empreendimentos com muita competência. Interessante perceber que doar esperma é ao mesmo tempo uma ação e uma omissão. É ser, em cada negócio, menos do que o sócio minoritário. E, ao mesmo tempo, nutrir o desejo de diversificar seu patrimônio enormemente.
E o lucro? Bom, em termos de dinheiro, ser pai não dá lucro algum. Ao contrário, filhos são verdadeiros canais por onde escoa a riqueza da família – segundo o último Senso, a mãe está participando como nunca na água deste rateio. Ao mesmo tempo, o abraço, o beijo, o sorriso, o amor de um filho tem valor que nenhum dinheiro no mundo compra. E quanto mais o homem se enfronha nos balanços, mais vê que esse negócio de ser pai vale muito a pena.
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