Oráculos do esporte

Número 508

Oráculos do esporte

Rubem Penz

Sou consumidor confesso de crônica esportiva. De toda ela: escuto programas especializados no rádio, assisto balanços da rodada na TV e, claro, leio colunas sobre futebol nos jornais da cidade. Portanto, sou fã antes de tudo. Porém, nem mesmo em temas religiosos – repletos de dogmas – abro mão da visão crítica. Logo, não seria o futebol que calaria minhas desconfianças. E desconfio que nossos analistas têm uma postura ranzinza e pessimista sobre o desempenho dos clubes de propósito. Reclamam de caso pensado. Criticam por estratégia.

Por quê? Ora, todo cronista inteligente (arranho o pleonasmo) joga com as probabilidades: se há vinte clubes na disputa de um único título, há dezenove perdedores e apenas um vencedor. Como o que se espera da opinião especializada é razão, a lógica matemática manda criticar constantemente o desempenho das equipes, pois, ao final da temporada, os números estarão ao seu favor. Tal constatação, que é de uma simplicidade pueril, nem sempre é percebida pelo público.

Difícil – suicida! – é colocar todas as fichas num clube, no desempenho de um craque, na estrela de um treinador ou na mística de um estádio. Quando se trata de goleiro, então, o caso chega ao ápice do risco: para escolher esse atleta como melhor em campo numa partida, só mesmo aos 45 do segundo tempo – desde que não haja muitos descontos. Um goleiro pode ter levado a equipe nas costas, mas nem isso o torna imune ao vexame de um frango, arranhando a opinião dos repórteres.

Quem escapa da regra é o comentarista parcial – aquele que, antes de tudo, é torcedor confesso. Mas seu eventual otimismo jamais será levado a sério: quem está falando é o amor. E o amor é cego. Contraria a lógica matemática e, quase sempre, as evidências técnicas também. Quando seu time é sagrado campeão, a histeria será responsável por apagar todas as falhas, apontadas ou não, do time. No insucesso, apelará para glórias passadas e fim de papo.

Há, em oposição, o analista igualmente parcial, mas pessimista: a crença na lei das probabilidades não lhe permite o sossego da razão. E quanto mais gosta do time, menos se conforma com o desempenho ruim. Seu posicionamento é mais ou menos como o do personagem Fernandinho, marido da impagável Ofélia (lembram?): ele pode falar mal de seu time, suas bobagens, derrotas e estripulias. Os outros, não: precisam respeitar.

Neste momento, quando o ano começa e as equipes estão em pré-temporada no Brasil, abre-se a banca de apostas e nossos oráculos colocam as mangas de fora. Serão, em regra, comedidos nas promessas; mal-humorados sobre contratações; pessimistas na comparação com o time do ano passado e, para temperar, esperançosos em alguma medida – ainda precisam da simpatia do torcedor. Isto é: me enganam e eu gosto!

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