Orações por (Antônio) Maria

Rubem Penz

Houve Maria, cheio de graça.

E bons senhores eram com ele: Vinícius de Moraes, Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Otto Lara Resende… Tantos amigos mais, tantos inimigos menos.

Bem-quisto era ele entre as mulheres, pois foi alguém que soube, como poucos, a elas igualmente querer bem.

Benditos foram seus frutos, ora em versos que vestiram melodias inesquecíveis como “Manhã de carnaval” e “Ninguém me ama”, ora na prosa urdida diariamente na forma de crônicas sensíveis, divertidas e ácidas. Muito santo, porém, ele não foi. Foi, aí sim, um homem de impagáveis frases, lapidares orações:

“Tenho todos os defeitos que nos outros detesto.”

“A vida quando separa homem de mulher sabe o que está fazendo.”

“De mim, a quem desconheço totalmente, falo de cadeira.”

“A gente conhece quando é Deus que manda as coisas e quando é o diabo.”

Dizia de si, e para seus pares, ter o homem só duas missões importantes: “Amar e escrever a máquina. Escrever com dois dedos e amar com a vida inteira”. Adivinhava para si, sem esconder de ninguém, uma vida breve. Sabia de si.

Marcava 3h05min do dia 15 de outubro de 1964 quando os males do coração o levaram. Tombou na calçada, durante o périplo noturno carioca do qual era protagonista. Ele, que desejou morrer em um bar, acertou seu destino com suave imprecisão. Tinha 43.

Por nós, ressuscita. Volta em horas de necessária leitura. Volta ao bar em forma de oficina literária (ah, a Santa Sede!). Volta aos livros em forma de epígrafes. No mesmo 15 de outubro, mas no 2014 que marca os 50 anos da morte de Antônio Maria Araújo de Morais, eu e mais dez cronistas lançamos uma antologia em sua homenagem: “Maria volta ao bar” (Ed. Buqui), em nossa sede, o boteco Apolinário, Rua José do Patrocínio, 527, Cidade Baixa, a partir das 20h.

Aceite meu (nosso) convite e apareça para colher autógrafos. Lá de onde estiverem Vinícius, Mendes Campos, Sabino e Braga, ouviremos louvores. Talvez, até, venham bênçãos. Maria, rogai por nós, os autores, agora e na hora de lembrar dos nomes para a dedicatória, amém.

Crônica publicada no Metro Jornal Porto Alegre em 14.10.14

gostou? comente!

Rolar para cima