Rubem Penz
Se existe um ditado incontestável (há quem adore contestar ditados), é o “cada louco com sua mania”. Primeiro, porque relaciona nossas manias a um estado de insanidade, apesar de muitos se defenderem as chamando de “método” – sim, muitos maniáticos se definem como metódicos. Segundo, pela referência ao particular do fenômeno (cada um com a sua), combinado com sua universalização (todos têm as próprias). Por isso, gosto deste ditado. Ele é ao mesmo tempo libertador e roga pela compreensão alheia. Nenhuma mania deve ser condenada se não fere ou ofende a ninguém.
Eu tenho uma mania. Devo ter várias, mas vou falar hoje apenas de uma em particular. Quando tiro a roupa da máquina de lavar, o faço por ordem. Primeiro, as calças. Depois, as camisetas. A seguir, os “panos”, tipo toalhas, pano de prato, guardanapos… Por fim, as miudezas: meias, cuecas, sutiãs… Se isso já soa esquisito, vai piorar: no momento de colocar a roupa no varal, não só penduro pela ordem já adiantada, como sigo uma sequência de cores nos prendedores. Azuis, depois verdes e cor-de-laranja. Há alguns metálicos a servir de coringa (para quando faltou um azul e há um lado de uma camiseta por prender).
Pergunte-me se creio na utilidade desta mania. A resposta é não. E fará muita diferença na incidência do sol ou do vento? Não – viram, sou um homem consciente. Então, se não faz diferença, por que faço? Talvez porque o varal fique bonito, organizado, harmônico. Pensei em dizer “lógico”, mas é lógico que a lógica de outro será outra, e também lógica, então não cabe como argumento. Para completar, preciso admitir que perco preciosos segundos da minha vida implementando um sistema que, no fundo, não passa de uma mania.
Quando somado ao fato de que os pares de meias precisam estar juntos e virados para o mesmo lado, muitos psicólogos de botequim podem se apressar no diagnóstico: TOC. Mas não chega a tanto… Para tal, eu precisaria reformular o varal quando outra pessoa da casa pendura a roupa misturando tudo (eu só reparo, confesso). Ao contrário, penso que ela é mais leve – está livre das minhas loucuras, das minhas manias.
Qual a importância disso? Nenhuma, além de fazer você pensar em como pendura sua roupa, ou se tem outra mania ainda mais estranha do que a minha (qual é a sua?). E de fazer com que se dê conta de que o que nos difere, por outro viés, nos iguala.
Crônica publicada no Metro Jornal em 12.03.2018