Introspectiva 2018/19

Introspectiva 2018/19

Rubem Penz

Nem para trás, nem para frente. A proposta aqui é olharmos para dentro nesta virada de ano. Para o íntimo e o indivisível; para o fundo dos olhos que aparecem reto no espelho. E, adiante da superfície, fazer perguntas cujas respostas serão escolhas nem sempre muito simples. Desligue a música e respire fundo.

Com tudo o que senti, como vou recordar de mim neste ano? Estive mais rancoroso ou complacente? Disposto ou enjoado? Solidário ou egoísta? Compreensivo ou impaciente? Agradecido ou inconformado? Feliz?

Com o tanto que disse, como fui percebido neste ano? Será que guardaram de mim mais palavras de ânimo ou desencorajadoras? Palavras doces ou maledicentes? Palavras medidas ou impensadas? Construtivas ou aniquiladoras? Qual seria a “minha” palavra do ano? Positiva?

Com muito do que fiz, como arquitetei os dias deste ano? Edifiquei muros ou pontes? (Ah, aqui, para além do clichê, muita sinceridade…). Embasei meus atos ou arrisquei gestos mal tramados? Fui leve, macio, ou permiti que a armadura da cizânia moldasse meu ser? Confortei?

Na contabilidade deste ano, qual foi meu saldo? Inflei a coluna da amizade ou da discórdia? Apostei no acúmulo de boas lembranças ou me deixei levar por desperdícios de oportunidades? Abracei mais – e nas horas certas –, ou contraí dívidas com os afetos? Perdoei? (Perdoei-me?)

Com base no que presenciei, estive atento a quê, afinal? Ao acordo ou ao litígio? Ao propositivo ou ao quanto pior, melhor? Ao possível ou ao idealizado? Àquilo que estava ao meu alcance, ou apenas na cobrança de ações de terceiros? Aceitei?

Contudo – e ainda assim – o que levarei deste ano? Aprendizados nas derrotas (ou nas vitórias) ou velhas certezas? Sementes ou cascas? Fotografias onde apareço sorridente, acompanhado, aventurando-me, surpreendendo a todos, brincando… ou soturno? Levarei fé?

Introspectivas raramente têm a contundência das retrospectivas ou o clamor das previsões. São elas, porém, um bom esteio para amparar nossas promessas mais íntimas, para as quais o mundo exterior pouco afetará. Introspectivas existem para transformar questões complexas em escolhas simples para os próximos dias do ano. Assim, se possível, entre um brinde e outro, reserve-se num instante de introspecção.

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