A sutil arte de vencer uma discussão

A sutil arte de vencer uma discussão

Rubem Penz

Há um debate eterno entre os comentaristas esportivos: qual campeonato é melhor, mata-mata ou pontos corridos? Para quem não sabe a diferença, no mata-mata há chaveamentos e confrontos eliminatórios em uma ou duas partidas. Nos pontos corridos, todos jogam contra todos em turno e returno, sagrando-se vencedor quem somou maior número de pontos ao final. Existe, ainda, um sistema misto, tal qual a Copa do Mundo: grupos onde todos jogam contra todos e, dos quais, os melhores migram para outro certame, este de chaveamento.

Não seria de todo absurdo imaginar que a questão de fundo para estas preferências repousa em como cada um encara sua vida. Para alguns, a aleatoriedade – ou, em alguma instância, a sorte – rege nosso destino. Temos uma ilusão de controle. A vitória pessoal é fato presente e determinante para tudo o que seguirá. E repousa aí o grande encantamento do futebol: esta modalidade se apresenta como a mais sujeita ao misterioso. Consenso: em nenhum outro esporte o favorito é mais vulnerável. Assim sendo, apenas o mata-mata é imparcial, é equânime, é adequado. A corrida da leoa contra a zebra: uma só chance. Pá!

Há um eterno debate em uma roda de amigos: será melhor uma vida breve, mas brilhante; ou uma vida longa, ainda que medíocre?

Outra corrente compreende a vida como a soma de pequenas atitudes a ditar nossa fortuna, ou nosso infortúnio. Ninguém vence ou fracassa de modo irreversível no longo prazo, lá onde o que vale é o saldo. Mais vale o médio regular do que um venturoso esporádico. Tipo a fábula da cigarra e da formiga, na qual o poupador não desperdiça os mínimos ganhos do dia a dia para servir de patrimônio. A má sorte finda amortizada: fracassa quem verdadeiramente mais perder, estabelecendo uma espécie de justiça, ou de lógica. Causa versus consequência.

Há um eterno debate em uma roda de amigos: será melhor uma vida breve, mas brilhante; ou uma vida longa, ainda que medíocre? Jornadas épicas no fio da navalha, ou serenas trajetórias construtivas? Assume-se riscos ou se investe com parcimônia? É mais seguro reconhecer o poder da aleatoriedade, ou não permitir que ela interfira sem controle? Mata-mata ou pontos corridos? De todos, Rudimar era o único quieto. Até o momento em que Mauro, inconsolado com sua apatia, parou tudo e dele cobrou um lado:

– E aí, meu velho? E pra você?

Rudimar girava o copo sobre a mesa algumas voltas para a direita, outras para a esquerda, como quem sabe o segredo do cofre. Sua pausa dramática deixou a explanação maior do que todas as batidas na mesa madrugada a dentro. Maior do que os gritos, do que os protestos. Prenúncio de síntese.

– Quer mesmo saber? Pra mim, não haverá nenhuma igual à Michelle Pfiffer.

 

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