2020 em drágeas
Rubem Penz
Saudade, saudade mesmo, tenho de escutar “leva um casaquinho”, e isso bastava para não ficarmos gripados.
X – X – X
Hoje, do público estamos privados.
X – X – X
Isolamento social não soa para você como um paradoxo? Tipo, compartilhamento sozinho?
X – X – X
Uma mão lava a outra e as duas lavam a alma.
X – X – X
Trocamos o saudável espanto do ‘parece mentira’ pela malícia ardilosa do ‘parece verdade’…
X – X – X
Anda tudo tão estranho que até para ligarmos ao telefone, antes, mandamos uma mensagem pedindo permissão.
X – X – X
A queixa de sentir-se só na multidão soa, hoje, como deboche.
X – X – X
Será que alguém um dia dirá com mesmo orgulho dos shows de nossa vida ‘eu assisti a live da fulana ou do fulano’? O que senti, como senti? Ahã… Igualzinho.
X – X – X
Jamais o ‘sinto como se o ano chegasse ao fim’ aconteceu tão cedo, em março.
X – X – X
Sou do tempo que olhar as curvas era melhor.
X – X – X
Diga com quem não andas e te direi quem és.
X – X – X
Sou do tempo em que perder o ar por causa de alguém era melhor.
X – X – X
Por contrário que pareça, confinado é separado, junto é com finado.
X – X – X
2020 é uma Quarta-feira de Cinzas estendida.
X – X – X
Abro a campanha: Não-me-toque para Capital Mundial do Combate à Covid-19.