Quinto Beatle – parte 1

Quinto Beatle – parte 1

Rubem Penz

Gosto de cozinhar ouvindo música. Coloco CDs a tocar num volume alto e tempero o ambiente com estilos variados – do pop ao samba, do jazz ao fado, do ‘nativismo chique’ à bossa nova. Meu paladar auditivo não encontra restrições (talvez, no máximo, as vertentes de rock pesado, às quais evito por me serem indigestas). E eu preparava o estrogonofe de Dia dos Pais, domingo, escutando Nando Reis gravado ao vivo em Porto Alegre. Foi quando perguntei à Nessa qual era, na opinião dela, o melhor dos Titãs.

Escolher entre melhores e piores é uma questão complexa. E se torna ainda mais difícil quando nos damos conta de que todos são bons de modo diferente, assim como são diversas as suas deficiências. Arnaldo Antunes é o melhor poeta e um intérprete sui generis mas, por outro lado, faz um tipo estranho. Ao contrário de Tony Bellotto com sua cara de “genro que toda sogra pediu a Deus”. Paulo Miklos, além de multi-instrumentista e cantor, é ator; Charles Gavin, o mais excelente em seu instrumento, é apresentador; Nando Reis é o mais luminoso do grupo, e assim se vai adiante. Como comparar?

Escolher entre melhores e piores é uma questão complexa. E se torna ainda mais difícil quando nos damos conta de que todos são bons de modo diferente, assim como são diversas as suas deficiências.

Piorou muito quando perguntei a ela qual dos meninos do Versão era o melhor. “Versão” é o Grupo Versão Brasileira, meu quarteto de música instrumental, e “meninos” é forçar a barra: temos mais de trinta anos só de grupo. Outra vez questões paralelas, dentre as quais a preferência afetiva pelo baterista, atrapalharam o processo de escolha. Um é saxofonista, o que, por si, serve de destaque. Outro é melhor compositor e o mais estudioso. Um terceiro é o mais sensível e de condução mais segura. O quarto, eu, aquele que nunca teve sequer professor e, mesmo sem saber o nome da música, tem ela inteira na cabeça. Dá para escolher?

Transferi a questão aos filhos em nossa “live de Dia dos Pais”. Outra vez a complexidade se fez ouvir. O tempo inteiro um era mais do que o outro em alguma coisa, menos em alguma coisa do que o outro. Caímos na questão do equilíbrio entre ser estudioso e ter talento inato – o que vale mais? Até a diferença entre Ronaldinho e Cristiano Ronaldo entrou no cardápio. O Ivan, quando perguntado por mim qual era o melhor dos Cobalas, sua própria banda, se deu conta da dificuldade. Clara, da conversa a mais eclética em termos de desempenho musical, ponderou que eu era o “artista” do grupo – aquele com, no pacote de habilidades, a característica de ser o mais exibido.

Enfim, fui dormir lembrando dos Beatles e a eterna discussão de qual deles merece mais créditos. Acordei com o tema na cabeça. Agora, ao escrever, dei-me conta de que também deixei de falar sobre o estrogonofe. Pior: terminou o espaço. É o caso de voltar ao título e informar que o tema retornará na próxima sexta-feira numa parte dois. Até então, proponho opinarem: qual era o melhor Beatle?

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