Derrotas e outras vitórias

Derrotas e outras vitórias

Rubem Penz

Eu nunca perco. Ou eu ganho, ou aprendo!”

Nelson Mandela

Perder é ruim. Incomoda, entristece, dói. Porém, é necessário.

Só a derrota traz os ensinamentos que vitória alguma seria capaz de oferecer. O crescimento raramente brota da bonança, do mar liso e da brisa suave. Superamo-nos quando circunstâncias adversas nos provocam, ainda que, antes, pareça uma tragédia. Portanto, negar-se a admitir insucessos é nada além de uma bobagem sem tamanho.

Neste instante, quase posso ver você assentir com a cabeça ao final do parágrafo anterior, bem mais por ter sido reforçado pela poderosa epígrafe do Mandela. E a atualidade das palavras, óbvio, repercute no noticiário internacional. Ah, quisera eu parar por aqui, confortavelmente instalado em um argumento praticamente consensual. Acontece que há derrotas e derrotas, bem como as vitórias também são múltiplas.

Há pessoas que não aprendem nada com suas derrotas. Corrijo: mais nada. Consciente de que o líder sul-africano tenha construído sua superação pessoal, além do caminho da sonhada igualdade étnica, juntando pedras que a ele e a seu povo foram ofertadas (eufemismo explícito), essa está longe de ser a regra. Quando se nasce no Brasil com três “pês” (preto, pobre e periférico), ouvir a ladainha pedagógica da derrota soa como ofensa. Pior: é a acusação subliminar de nada aprender com a vida, fazendo pesar, outra vez e sempre, a responsabilidade das cotidianas derrotas nos ombros do eterno derrotado.

Proponho outro olhar: quando a igualdade competitiva existe apenas no discurso, o que mais nos ensina é a vitória. É preciso olhar bem para ela e compreender suas razões a partir da superação; investigar insuspeitados méritos e descobrir o que aconteceu diferente para, contra a lógica, ter dado certo. Por isso é tão importante a existência de heróis fora dos padrões caucasianos ou eurocêntricos. De exemplos de sucesso para serem mostrados aos jovens. Ícones.

Depois, no utópico mundo das oportunidades iguais, voltemos às derrotas. Hoje, elas ocupam quase todas as horas de uma parcela assombrosa da população, já sem nada a ensinar – na mesma proporção em que há inúmeras vitórias para os que só ganham.

Ganhar é bom. Reconforta, alegra, traz prazer. Melhor, só quando é equânime.

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