Orgasmo
Rubem Penz
– Sabe que até hoje nunca tive um orgasmo?
– Hummm… Não acha que demorou muito para me dizer uma coisa dessas?
– Nem demorei tanto assim.
– Mais de dois anos é um “nem tanto assim”?
– Já faz tudo isso, é!? A gente se perde no tempo meio fácil.
– Deixa ver: falávamos de outro assunto quando você mudou para o orgasmo. E nem tira os olhos do teto para dizer isso. Ou seja, não olha para mim. Eu considerava já termos construído laços de confiança. Estou errado?
– Não seja reativo. Você é o primeiro para quem conto.
– E?
– Talvez fosse importante dizer antes de, sei lá, antes de dizer que… Ai, é difícil falar.
– Se é difícil, é importante…
– Eu quero mudar. É isso. Quero mudar. Vou experimentar com uma mulher. Conheci ela sábado passado e fiquei balançada. Conversa vai, conversa vem, soltei esse lance do orgasmo. Assim, do nada. Me senti à vontade, sabe? E ela disse que poderia me ajudar.
– Você falou de nós?
– Claro! Não me queixei, não se preocupe. Nem disse seu nome. E quando chegamos no orgasmo, ela perguntou se eu havia dito pra você.
– Chegaram ao orgasmo!?
– Na conversa. Chegamos ao ponto de falar no orgasmo. Se fosse isso que você entendeu, eu não diria que nunca tive um, né? Lógica, lógica.
– Pois bem. Estranhamente, me sinto até meio prestigiado.
– Não sinta. A ideia nem foi minha. Só estou falando porque ela insistiu. Achei até meio estranho. Fiquei pensando se vocês se conhecem.
– E nos conhecemos?
– De fora, a gente fica com a impressão que todos os analistas se conhecem.
Boa, safadinho…
Hahahaha
ótima! engana direitinho…
Hahahahaha!