Choveu na minha horta

Choveu na minha horta

Rubem Penz

Fui fã do Fittipaldi, do Piquet e do Senna. Torci muito por Pace, Gugelmin, Barrichello e Massa. Porém, quem gosta de F1, gosta de pilotos e máquinas sem a necessidade de existirem as cores verde e amarela no capacete ou na carenagem. Por isso, sempre vibrei com o talento de Lauda, Prost (praticamente um Dick Vigarista com olhar de peixe morto e cabelo de cantor brega), Schumacher, Vettel, Hamilton e Verstappen. Escuderias e motores concorrem em um campeonato paralelo, mas eu gosto mesmo é de ver a diferença imposta por quem está atrás do volante. Por isso o GP da Rússia ontem foi muito especial.

Sabe quando você lê o cardápio de uma refeição e já começa a salivar? Isso foi o que a competição reservou ainda no sábado, quando foi definido o grid de largada. Nas últimas voltas, jogando com a diferença de pneus, as primeiras posições trouxeram nomes novos, com destaque para Norris (gosto muito do menino) na pole. Para atenuar uma punição, Verstappen trocou o motor e foi parar em último. A Mercedes trocou o motor do Bottas para colocar o piloto com a missão de segurar o ímpeto do holandês, numa demonstração clara de preocupação com o desempenho do seu carro na comparação com a Red Bull. E tinha a chuva… Choveria?

E tinha a chuva… Choveria?

Parênteses para falar de chuva. Quando chove, aparecem as diferenças entre os adultos e as crianças dentro da pista – e as categorias não têm nada a ver com a idade cronológica. É quando volto para 1984, eu com vinte aninhos, diante de um show de Ayrton Senna em seu primeiro ano na F1. Pilotando uma modestíssima Toleman, viu seu primeiro GP ser surrupiado por uma decisão de Direção de Prova logo antes de sua inevitável ultrapassagem sobre Allan Prost. Daquele momento em diante Senna ocupou dois tronos: os reinados de Mônaco e da Chuva. E ficou evidente para todos que é diante das vicissitudes que aparecem os extraordinários.

Voltando para a Rússia, quando faltavam três voltas para o final, despenca uma chuvarada. Norris, até então favoritíssimo para conquistar seu primeiro ápice num pódio, decide não parar. Hamilton, prudentemente, substitui os pneus e, antes dele, Verstappen faz o mesmo. Resultado: o garoto cai para sétimo, o “Patrão”, como dizem, vence, e o audaz desafiante pula seis posições e termina em segundo – tudo isso em três míseras voltas. Para melhorar, Lewis Hamilton alcança a inacreditável marca dos 100 GPs, empilhando recordes do fenômeno anterior, Schumacher, os quais eu considerava imbatíveis.

Ah, quantas surpresas mais nos reservará o Campeonato Mundial de F1 deste ano? Até o momento, este é o mais emocionante em muitos e muitos anos, repleto de momentos históricos. Para quem gosta de se plantar no sofá diante da TV nas manhãs de domingo, uma chuva na horta!

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