Rubem Penz
Para Vânia, Luciane, Nelmar e Rogério
Parte 1 – Dúvidas
Desde 2001, ao menos a cada cinco anos os colegas que deixaram o Colégio Anchieta em 1981 se reúnem para uma festa de reencontro. Há quem considere este tipo de evento piegas, eu sei. E lamento, pois olhar outra vez nos olhos de quem víamos com uma frequência diária durante a juventude resgata uma energia maravilhosa. Porém, a Covid-19 deixou tudo em suspenso. Por ser parte da comissão organizadora, acompanhei debates ricos em ponderações e muito atentos à evolução da pandemia. Tudo em nossa festa combina com a vida, até mesmo quando inevitavelmente recordamos de nossos mortos. Assim, cada passo foi medido – mostrássemos pouco zelo, não teríamos adesões (quem quer se arriscar, ainda mais agora?); retardássemos as decisões, não teríamos nem tempo hábil, nem lugar disponível, nem fornecedores confiáveis. Para piorar, pela dinâmica dos fatos, ninguém honesto poderia (poderá?) garantir um quadro seguro com muita antecedência.
Parte 2 – Dívidas
Acontece que as pessoas esperam por nossa festa, contam com ela, planejam-se para estar em Porto Alegre no período – muitos de nós estão espalhados pelo Brasil e pelo mundo. Depositam na comissão organizadora a confiança que se transforma no combustível que nos move. Nem sempre é fácil completar as lacunas que separam o sonho da realidade, o plano da realização, o prometer do quitar. O acerto de contas é o seguinte: de um lado, fazemos o possível para que a festa possa acontecer; do outro, as pessoas fazem o possível para que ela aconteça. Durante o encontro, em cada brinde, abraço ou sorriso, o mundo se completa e a engrenagem faz sentido. Ambos os lados dependem do entusiasmo para existir. Interessante é ninguém se dar conta do óbvio: dependem do entusiasmo do outro. A pandemia elevou o cacife para a rodada e pagamos para ver.
Parte 3 – Dádivas
Muitas contingências conspiraram a nosso favor: a população aderiu em ampla maioria à vacinação e se manteve atenta aos protocolos de prevenção. Declinaram as ocupações em leitos de UTI, baixaram os índices de infectados, lamentamos cada vez menos mortes. Da condição de pânico, passando pelo medo, chegamos ao patamar do respeito. Graças ao mais firme componente da nossa comissão, exigimos teste de PCR a todos os convidados – extensivo aos prestadores de serviço. Com isso, pudemos olhar nos olhos uns dos outros no sábado passado. E olhar narizes, bochechas, queixos e sorrisos. Dançar, abraçar com cuidado e… adiar alguns beijos – a prudência pedia. Celebrar a vida normal sem pensar se ele é o velho ou se é o novo. Resgatar a intensidade perdida em telas tantas.
Epílogo
Quis o destino ofertar um reencontro especial. Para alguns – para mim –, foi a primeira experiência pós-covid com uma centena de faces. E o mais parecido possível com a naturalidade dos gestos em dois longos anos aconteceu justamente com parceiros que conheço a longuíssimos anos (uns há mais de meio século). No final, as pessoas mais importantes que encontramos na festa foram, também, aquelas de quem mais tínhamos saudade: nós mesmos – os que só veem sentido na vida pelo viés da partilha. Sem dúvida, saldar essa dívida foi uma dádiva.
Rubem querido amigo de mais de meio século, tens o dom tão especial de nos emocionar ! Essas 3 palavras Dúvidas, Dívidas e Dádivas contam cada pedacinho deste momento mágico que tivemos o privilégio de concretizar na Festa 20+20 da Turma A 81. O mais incrível é q depois de 40 anos, depois do gosto amargo da pandemia, conseguimos realizar a doçura deste Reencontro com nossos amigos queridos. E nada melhor que abraçar, rir, relembrar nossa história e sair de lá com a alma lavada,com o ❤ leve e felizes por brindar a nossa amizade !!!
Sou grata por estar ao teu lado, da Lu Schimia, do Carioca e do Nelmar nesta comissão que tudooo fez pra tornar este sonho realidade. Vivaaa os anchietanos da turma A81, amigos para sempre !!!!! 💛💙
Vocês quatro são demais, Vânia! Competência, dedicação, cumplicidade e talento: vocês somam o que há de mais valioso para o grupo alcançar êxito! Eu sou grato! Beijão!
Lindo texto!!!!!!!
Obrigado, Ângela! Beijão!