Minha história no Jô

Nove entre dez brasileiros sonharam um dia serem chamados para dar uma entrevista ao Jô Soares (quem nega representa a raposa na fábula). Foram muitas centenas os agraciados, talvez passe de mil – sendo que grandes personalidades estavam com frequência naquele mítico sofá. E, por maior que este número pareça – longos anos de sucesso –, raros conseguiram. Contrariando os números, eu – sim, eu! – consegui.

Assim sendo, é justo pensarem que tive sorte – lembrando que “sorte” também significa destino. Injusto, porém, é qualificar como acaso. Por isso, vou revelar aqui a extraordinária história de como isso aconteceu. Tudo começou num tórrido janeiro, num café na esquina da Irmão José Otão com a Fernandes Vieira. Chamei o Felipe Basso com o projeto “Maria volta ao bar” inteiro na cabeça. E disse: se fizermos tudo certo, vamos para o Jô.

Reconheço que, naquele momento, era alguém com menos peso do que o necessário para a façanha (sim, esperei poder contar a história para aproveitar o trocadilho, que terá desdobramentos). Assim, estive amparado por Antônio Maria para me garantir lastro (avisei…). Hoje cultuado, oito anos atrás ninguém falava de Maria. Nós aproveitamos a efeméride dos cinquenta anos da morte (diante de um bar) para ressuscitá-lo.

Foi quando eu disse para o Basso: entre todos os comunicadores de destaque na TV, o último íntimo de Maria é o Jô. Se o livro chegar à mesa de pauta, ele nos chama. E dei certeza. Claro que ainda faltava fazer tudo certo. Por isso a dívida de gratidão com Felipe, Zulmara, Luciana, Tiago, Dora, Linda, Roberto, Vanessa, Mariana e Kauer. Também com Gustavo (Buqui) e com o saudoso Octávio Tostes – amado padrinho da turma.

sempre soube: o Jô eram dois – o reverente e o irreverente

O telefonema com o convite aconteceu quando eu estava no balcão de atendimento dos Correios. Terminava setembro – mesmo tempo da gestação – e, até o dia 17 de novembro (gravação) e 19 (quando foi ao ar), houve muito drama. A pauta caiu diversas vezes por semanas sem gravar – o Jô perdeu o filho e adoeceu durante o período. Fiz promessa para Santo Antônio (e para Maria), jurei ser alguém melhor, quase perdi a fé.

Na madrugada que antecedeu a entrevista – ufa, confirmada – tive uma homérica crise de rinite. Espirrei de Porto Alegre a São Paulo para, ainda no aeroporto, ser salvo pela Linda. Lá também estavam os imprescindíveis Felipe e Kauer. Na plateia, sentaram-se logo atrás de mim, enquanto eu fiquei entre Ronaldo (Cassetas) e Lulu Santos. Os acordes do quinteto ritmaram os passos finais, iniciados em janeiro. O que senti não cabe em palavras.

Ainda assim, sempre soube: o Jô eram dois – o reverente e o irreverente. Para quem ele admirava, sobravam gentilezas. Aos demais, espirituosas piadas. Não vencemos a entrevista – sobrevivemos a ela com mais ou menos galhardia. Quando cheguei em Porto Alegre de volta, disse para a Vanessa: fui destruído. Mas eu estava enganado (ou ainda tonto). Restei inteiro de um dos mais radicais saltos possíveis. E ainda fiquei com a caneca (que já rende outra história).

 

Reveja a entrevista em  https://youtu.be/cwWoONJgYnA

8 comentários em “Minha história no Jô”

  1. Paulo Potiguara Torino dos Santos

    Fomos colegas, no tempo em que o Mar Morto estava costipado, numa oficina de crônicas e logo percebi que tinhas talento. Foi isso que te levou ao programa do Jô, talento.

    1. Paulo, muito obrigado – sua fé, desde lá no pretérito tempo, certamente ajudou. Abração, colega!

  2. Sim, sentar naquela cadeira foi uma efeméride. Todos os cumprimentos pelo feito serão poucos. E escapaste bem do lado etílico que ele tentou insinuar.

    1. “Insinuar” comprova a bondade em seu coração. Mas saltei rápido, ainda bem! Obrigado, Sílvio

    1. Obrigado, Noara. Comentava com um amigo: uma história com todos os ingredientes: sonho, trabalho, drama e final feliz! Beijão!

  3. Que linda homenagem! Saber que esteve lá, que era quase uma mesa de bar, me deixa muito feliz! Confesso que poucas vezes assisti ao vivo, por conta do horário. Se tiver gravação, poderia mostrar?

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