Bastidores, sismos e cisma

Em tudo na vida há experiências de fruição e de fruição plena. Por exemplo: no Carnaval, vestir uma fantasia e pular durante uma noite num baile ou num bloco de rua é desfrutar da alegria que a festa proporciona. Duas, três, todas as noites multiplica a chance de usufruir do prazer. Porém, nem mesmo todas madrugadas de folia com uma rica composição de figurino e maquiagem alcança o patamar de fruição plena, só possível quando se conhece – e atua – nos bastidores.

Os carnavais, quando me tinham, eram muito maiores do que os dias de Momo. Duravam ao menos dois meses (e olha que isso é pouco se compararmos com as escolas de samba). Posso dizer que o início coincidia com o final do ano letivo, momento de programar as atividades do bloco na minúscula Praia do Barco. Alguns amigos já se reuniam comigo em dezembro para pensarmos no enredo. Depois, em janeiro, uma série de movimentos concatenados viabilizavam nossa centena de pessoas unidas pelo samba.

Primeiro ponto: era preciso oferecer vantagens competitivas para seduzir ao máximo. Neste sentido, contávamos com um negociador maravilhoso, o Miguel. Ao mesmo tempo em que oferecia aos melhores clubes o ingresso de dezenas de componentes nas suas festas – com direito a pausa para os músicos durante uma performance de mini escola de samba –, para as dezenas de pessoas oferecia a entrada nos melhores clubes do litoral, transporte e bebida no esquenta por um valor irrisório. A conta, como qualquer um pode perceber, jamais fecharia. Aí começava o trabalho de bastidores.

A realização de festas, rifas e gincanas durante o veraneio tinha dois propósitos: financeiro (financiar o bloco) e anímico – envolver a comunidade em torno dos mesmos objetivos. Também era preciso estimular os músicos a adquirirem e cuidarem dos seus instrumentos e os foliões a costurar suas próprias fantasias segundo diretrizes estabelecidas. Isso levava as famílias a serem parte do processo. Para completar a receita, a garantia de cuidados mútuos atenuava a aflição dos pais em verem seus filhos embarcar no ônibus e incutia nos menores de catorze anos o desejo de estarem conosco tão logo a idade chegasse.

Quando juntamos tudo isso com as muitas horas de ensaios, construção de adereços, assinaturas de contratos, compra de insumos, acomodação dos foliões de última hora e angústias com os inevitáveis contratempos, alcançamos o máximo possível de dor e alegria para viver um Carnaval. Opa! Talvez seja isso que me leva à certeza de que, para mim, a festa nunca mais foi a mesma. Estar no epicentro de um sismo de emoções era minha experiência carnavalesca. Para alcançar tamanha intensidade, talvez só na Sapucaí. E olhe lá…

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6 comentários em “Bastidores, sismos e cisma”

  1. Maria Ângela Kahl Schreiber

    Bah escritor, amei! Nos meus áureos tempos de Carnaval, o máximo que cheguei foi em pensar na maquiagem 💄 e figurino hahaha. Mas valeu, tenho grandes lembranças do meu tempo de foliã, com fôlego pra cinco noites. Hoje em dia, sou do bloco dendicasa 😁 Abraços e Parapenz pelo talento!

    1. Sergio Zilberstein

      Te encontrei. Sei que não te agradas disso. Mas errei com você. E preciso te dizer isso há muito tempo.

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