Na churrasqueira incandescente

Morar numa casa implica ter muitas lâmpadas. Casa com mais de um piso, então, horrores de lâmpadas. Mais fortes, mais fracas, luz fria, luz quente, para lustres, em arandelas, nos abajures, embutidas nos móveis… Aqui, acho só não temos luzes em sancas – exclusivamente por ausência de sancas, modalidade que abortei ao contratarmos o gesso do térreo. O que outrora foi muito dispendioso, com a tecnologia LED (diodos) tem-se tornado mais econômico, leve, prático e durável.

Sobre as tais lâmpadas em diodos, havia duas maneiras de aderir à nova tecnologia: a migração imediata e a migração paulatina. A primeira tendia a ser dispendiosa por três motivos: logo que lançadas, eram mais caras; em escala, a aquisição se torna volumosa e trocar todas as da casa ao mesmo tempo quase pedia uma ajuda profissional – chamar um eletricista. Mas não é só trocar uma lâmpada por outra? Sim e não: onde há halógenas as coisas complicam um pouco (especialmente em móveis). Logo, optei pela migração em conta-gotas.

Gotejamento longo…

O método consistiu em duas etapas. A primeira foi trocar por LED cada lâmpada incandescente que fosse queimando. O pinga-pinga aleatório e constante resultou em anos de sobe e desce de escadas, abre e fecha lustres, desenrosca e enrosca nos bocais. A segunda aconteceu quando a última gota fez derramar o balde até aqui de mágoas com o claro/escuro das halógenas (dicróicas, sabe?), já impossíveis de substituir porque sumiram do mercado. Foram duas etapas em jorro: primeiro, todas as do gesso e, depois, todas as dos móveis.

Mas por que falar disso hoje? É que só ontem me dei conta da longevidade do processo.

Eu jurava ter encerrado essa etapa da vida, sabe? Tantos anos de esforço dedicado… Até que precisei pegar uma vassoura no quartinho de limpeza à noite e, voilá!, vi que ele ainda está com uma lâmpada incandescente no plafon. A última, pensei. Não. Não é. Tem uma no estúdio, três em forma de vela no lustre da mesa de jantar e uma na coifa da churrasqueira (fiz o levantamento). Já tenho programa para o finde: substituir ao menos a do quartinho e a do estúdio, mesmo antes de queimarem. E guardá-las. Se não for para um museu íntimo, ao menos para ter estepes na churrasqueira – desconfio que o plástico das LED não resiste ao calor. Ou resiste? Com a palavra, os engenheiros.

6 comentários em “Na churrasqueira incandescente”

  1. Carlos Alberto Gianotti

    Caríssimo Rubem, ao mencionares “eletricista” e, depois, “lâmpadas incandescentes”, o mote da prosa, evoquei minhas aulas de eletricidade – a que te submeteste – no Anchieta. Primeiro, lembrei que eu fazia referência em aula ao funcionamento das lâmpadas “de incandescência com filamento de tungstênio”. Depois, recordei uma fina piada anotada por um aluno (hoje, creio já não os há com espírito desse feitio): ao entrar em classe para mais uma aula, todos já sentados, pude ler no quadro negro o registro galhofeiro: “Gianotti, o eletricista do colégio”.
    Grande abraço.

  2. Caríssimo mestre!
    Sim – chamaria o eletricista mais pelo volume do que pela tarefa em si – a qual, mesmo ser grande habilidade (e paciência), cumpri graças a, sim!, uma boa base teórica vinda desde as aulas de eletricidade no colégio! Lembro da piada e vou investigar se descubro o nome do pândego.
    Muitio agradecido pela leitura, abraços!

  3. Ainda tenho muitas antigas que não queimaram. Não vou trocar antes, luminárias trabalhosas de mexer. Coloquei uma led na churrasqueira. Vem bem. Abracos

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