Operação Cenoura Exposta

Senhor coelho, é de voz corrente, e o conjunto probatório indica com clareza, ser você o responsável tanto pela existência quanto pela ocultação do ninho de páscoa. O que o senhor tem a nos dizer sobre o fato?

Falácia. Nunca houve uma só pessoa a ter-me visto perto deste ou de qualquer ninho.

Sendo assim, o que o senhor me diz das marcas de patinhas colhidas na cena?

Foram forjadas por aqueles que tentam me implicar.

Sua certeza só faz crescer as suspeitas de envolvimento direto. Seria você uma cenoura do sistema?

Você quis dizer “laranja”?

Anote nos autos: o investigado assume sua culpa por associação cromática. Por mim já podemos concluir o depoimento e dar por encerradas as investigações.

Espere! Eu sei quem financiou e quem preparou o ninho.

Bom, então diga seus nomes.

Não posso. Ocupam os mais altos cargos de confiança. Além disso, se eu disser quem armou tudo, haverá um assassinato.

O senhor tem medo de morrer? Podemos dar-lhe garantias.

Não temo por mim. Temo pela inocência. Se revelo tudo o que sei, ela morre.

Bom, isso muda as coisas…

Posso ir, então?

Pode. O senhor nos desculpe pelo incômodo.

X – X – X

Delegado, o que o senhor tem a nos dizer sobre a Operação Cenoura Exposta após o depoimento do coelho?

Foram confirmadas nossas crenças com relação ao fato, mas não há e nunca houve testemunhas. As provas também são frágeis. O caso está encerrado.

Há rumores de gente graúda por detrás deste e de outros episódios, por exemplo os acontecidos em dezembro. Alguns afirmam que absolutamente todos sabem quem estaria movendo as cordas deste teatro de fantoches. Pior: sempre souberam. O senhor confirma ou nega?

Nem confirmo nem nego. Tudo o que faço é preservar viva a inocência. Fim da coletiva.

Não seria manter viva a hipocrisia, senhor delegado? Hein? Por favor, responda! Responda!

10 comentários em “Operação Cenoura Exposta”

  1. Giancarlo Carvalho

    Levei um susto com o título, mas depois de tudo revelado, entendi o motivo, e a investigação. Espero que os tais “mais altos cargos de confiança” sejam logo revelados, e que não troquem rato por lebre. Muito bom, Rubem!

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