Quem convive comigo acompanhou: num passado recente, perdi minha carteira de motorista. Fui parado numa blitz da Balada Segura na Av. Bento Gonçalves, voltando da Santa Sede. Havia tomado um chope. Não soprei o bafômetro: bastava-me o exame de consciência. A confissão de culpa ao me recusar a gerar provas contra mim – assim decidida pelo STF – é a ordem. Sete pontos, multa multiplicada, sem dirigir por um ano, trinta horas de curso de reciclagem e novo teste teórico depois, desde sexta-feira passada estou reabilitado. É a lei. Cumpra-se – vivemos numa sociedade regida por direitos e deveres.
Comemorei em alto estilo: no final de semana, a trabalho e, claro, com prazer, subimos para Canela e Gramado. O tempo não ajudou. Ou ajudou aos outros: brasileiros de regiões tropicais que adoraram uma pequena reprise de inverno. Baixou a temperatura e a umidade relativa do ar ficou em 100%. Se não tinha chuva fina, havia nevoeiro pesado. É até bonito de se ver quando exótico – para nós, gaúchos, o que mais bate é o desconforto associado ao quadro. A decoração de Natal estava com moldura européia ou norte-americana. Dingobélica.
Mudando de saco do Papai Noel para a mala sem alça do castigo, uma das consequências do curso de reciclagem é ler, ver e ouvir tudo sobre nosso código de trânsito. Foi até bom transitar por uma série de leis, normas e dispositivos pensados para proteger a vida. O difícil é encarar a dura realidade nacional: nem mesmo quem elabora as regras cumpre as regras. Como sei?
Compromissos de trabalho nos obrigaram a descer domingo à noite. E na soma de escuro, chuva fina, névoa pesada e estrada sinuosa, notei que há uma diferença entre o papel e a realidade. No pedaço de caminho pedagiado até que a coisa funciona: olhos-de-gato, asfalto pintado, sinalização vertical em dia. Depois, na BR-116, uma estrutura de sinalização nota 6,5. Sete, no máximo. E a cereja podre do bolo: os quilômetros de RS-118 entre Gravataí e Viamão muito, muito abaixo da média.
Aos administradores, indico o curso de reciclagem que fiz. Está tudo ali, detalhadamente pensado para salvar vidas. De minha parte, coloquei em prática todas as técnicas de direção defensiva recém vistas para me defender do descaso com nossas estradas. Por isso, estou a salvo para aqui escrever.