Ser pai outra vez é retomar a crescente delegação de autonomia a uma pessoinha, com suas inevitáveis consequências – o sapo não lava o pé, não lava porque não quer, mas que chulé;
Ser pai outra vez é estimular a socialização e o respeito pelas diferenças – a Baleia, a Baleia é amiga da Sereia. Olha o que elas fazem: tchibum, chuá, tchibum, chuá;
Ser pai outra vez é colocar limites, deixar claro o que pode e o que não pode ser feito – o pato pateta, pintou o caneco, surrou a galinha, bateu no marreco (…) tantas fez o moço que foi pra panela;
Ser pai outra vez é dar valor à saúde do corpo e fazer algumas sessões de auto-carrinho para aliviar um dia puxado – meu pé, meu querido pé que me aguenta o dia inteiro;
Ser pai outra vez é criar senso de rotina e ensinar coisas simples, porém indispensáveis como asseio – tchibum, tchibum, da cabeça ao bumbum, todo dia banho desde o dia em que eu nasci;
Brilha, brilha, estrelinha, baila linda bailarina – ser pai outra vez é redescobrir que uma criança pequena tem o condão de se auto ninar. E, nem assim, dispensará sua presença na hora de pegar no sono;
Ser pai outra vez é investir algumas horas em uma das tarefas mais nobres e recompensadoras: cozinhar para a criança – o que que tem na sopa do neném? Será que tem espinafre? Será que tem tomate?
Ser pai outra vez é conhecer cada parte daquele corpinho fofo, fazer carinho e dar amor a cada oportunidade – cabeça, ombro, joelho e pé, joelho e pé. Olhos ouvidos, boca e nariz. Cabeça, ombro, joelho e pé;
Ser pai outra vez é mostrar o mundo para quem, do dia para a noite, passará a dominar a paisagem – a lua, quando ela roda, é nova, crescente ou meia. A lua é cheia, e quando ela roda, minguante, meia, depois é lua novamente;
Ser pai outra vez é estimular a força de vontade mesmo quando as coisas não saem exatamente como o esperado, pois viver é superar obstáculos – a dona Aranha subiu pela parede, veio a chuva forte e a derrubou;
Ser pai outra vez é herdar e renovar canções: as de ontem, as de hoje, as que amanhã serão memória. Porque a infância, com sua trilha sonora, é também a forma mais doce de escrevermos a eternidade. Gratidão aos autores e intérpretes.
*Aventuras & Desventuras de um Pai Bem Passado