Robô de Havaianas, minhas nádegas

Oscilo entre aflição e humor diante das verificações de nossa humanidade quando operamos determinados sites. Há momentos que se parecem com as injustas chineladas recebidas por minha geração durante a infância: é para o seu bem! Como pode ser para o meu bem aquilo que me pune (ou duvida de mim) quando acontece? Ah, mas as verificações não nos punem, nos protegem. Punem, sim! Experimente errar – a Via Crúcis que seguirá poderá doer mais do que um pé esquerdo de Havaianas percutido na bunda.

Hoje mesmo quase fui vítima desta armadilha. Por algum motivo de dedo incauto, errei a senha que sei de cor para entrar no aplicativo do banco. Desta forma, o robô que deseja saber se sou um robô tirou o chinelo do pé e me ameaçou: quais são essas letras aqui? Escrevi: rpWJ. Primeira chinelada: não reconhecemos letras maiúsculas e minúsculas. Mas eu as reconheço, e estavam lá assim! Não adianta: “X” vermelho.

Diante disso, pensei: escrevo tudo em maiúsculas ou tudo em minúsculas? Aflição. Escolhi a caixa baixa: rpwj. Mandei. Novo “X” vermelho. Segunda chinelada: informação incorreta. Você só terá mais uma tentativa antes de ir para o castigo. E eu não entendia: estava certo, o que fizera errado? Foi quando vi um alto-falantinho e, em desespero de causa, decidi: vou escutar. O robô que queria saber se não sou um deles ditou: erre-pê-vê-vê-jota. Baita sacanagem! Com as letras ali grudadas, o W e VV são iguais. É muita injustiça.

Tudo resolvido, voltei a lembrar da educação aos moldes antigos: a maior parte das reprimendas fisicamente doloridas que recebi foram merecidas. Surtiram efeito tanto imediato quanto duradouro. Porém, às vezes apanhei de modo imerecido. Na época não reconheci qualquer didatismo contido na injustiça. Os anos se passaram e, em retrospectiva, dei-me conta: até quando erraram, meus pais acertaram. A lição: a vida não é justa, lide com isso.

Duas chineladas antes do “rpvvj” redentor. Os robôs estão ficando parecidos demais conosco: erram – e a culpa ainda é nossa. O aprendizado, também.

3 comentários em “Robô de Havaianas, minhas nádegas”

      1. Pois é, Ataíde. Está diferente mesmo. Mas vi que era você, claro. Muito obrigado pela leitura e elogio. Apanhar das letras também é nosso dever. A escrita pode não ser justa, mas até aí tem lição! Abraços

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