Aprender, ou mais, tentar

Aprender, ou mais, tentar

RubemPenz

Se já nem sei o meu nome
Se eu já não sei parar

Lô Borges & Toninho Horta

É uma imprecisão julgar gerações diferentes. Antes pensei em escrever ser erro ou injustiça – às vezes uma só palavra não compõe todos os sentidos que buscamos. O fato é que a história vai ofertando oportunidades e cobrando desafios novos a cada momento, ainda que os grandes objetivos (tipo igualdade, paz, prosperidade, amor, felicidade) permaneçam como uma constante. Sempre preferi julgar ter, cada grupo, as ferramentas certas para lidar com suas vicissitudes particulares, acertar e errar.

Pensava no assunto enquanto escutava Manuel, o audaz, um dos temas-marco da minha juventude. Esta música não foi para novelas, não ocupou o topo das paradas, sequer rodava nas rádios líderes de audiência. Por isso, não se escandalize caso não a conheça. Por dica, procure escutar para, quem sabe, ter uma boa surpresa. Em sua gravação grudada na memória, cantam os autores (Lô e Toninho) e o solo de guitarra acústica está nas mãos de Pat Metheny (escalo o time para atiçar a curiosidade). Tanto quanto um Campari com tônica, ouvi-la é para mim entrar na máquina do tempo.

Outra vez a bordo do Jipe Manuel, recordei de minhas angústias tantas. Olhava para trás, para a turma que havia embarcado no calhambeque do Roberto, e via neles uma simplicidade irreprodutível. Os filhos do pós-guerra, na Jovem Guarda, cresceram mais otimistas e agrupados. Só depois o horizonte ficou plúmbeo e, quando me preparava para ser adulto, o entorno era de rescaldo. O medo de as brasas reavivarem nos tornou mais céticos. E chocamos o ovo da serpente – o individualismo. Com ele, sobreveio a violência e o medo. Tentávamos uma identidade sem saber ao certo nosso nome. Hoje, não creio termos deixado um grande legado…

Eis que meus filhos tornam-se adultos. Nem jipe nem calhambeque, ambulâncias rondam nossos destinos e, por isso, é justo que também sofram de futuro. Mais do que nós, certamente, ocupados que estamos em salvar vidas e não morrer. Entre as oportunidades e desafios, rogo que encontrem outra vez o forte sentido de coletividade para recompor os contrapesos da história. Mas, por favor, sem esquecer que todos, sempre, almejam o mesmo – paz, igualdade, prosperidade, amor, felicidade – este era nosso destino traçado ao volante do Manuel. Quem duvida, escute a música. Se não há esperança ali, nem sei onde mais encontrar.

Bateu a curiosidade? Está aqui: https://www.youtube.com/watch?v=0hIkFkr2Kqw

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